"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

domingo, 23 de março de 2008

Ressucitou, não está aqui!

Um dos mais encantadores episódios do dia da Ressurreição, o primeiro dia da semana, o primeiro dia da nova e definitiva Aliança, foi o encontro de Maria Madalena com Jesus. Lá estava aquela mulher, à boca do túmulo, a chorar. O Evangelista João o narra. Enquanto os discípulos, tendo visto, foram embora, ela não se afastara daquele lugar. Ao que lhe parecera ser o jardineiro, pergunta “Se foste tu que o tirastes, onde o puseste, para que eu vá buscá-lo”(Cf. Jo.20,15)

Em sua homilia sobre este trecho do Evangelho, diz São Gregório, Papa: “Procurava com ardor e afinco a quem não encontrara; chorava, buscando, inflamada de amor, aquele que julgava ter sido roubado e por quem sentia ardente desejo”. Como a Sulamita, buscava o Amado do seu coração. Procurava-o pelas ruas e praças até o encontrar. Quando o encontrasse, o seguraria e não o deixaria jamais (Cf. Cant.3).

Então aconteceu que só ela o viu, ela que ficara a procurar.

-“Maria! – Rabbuni, que significa mestre”(Jo.20,16). Cristo ressuscitou! Vai, Maria, anunciá-lo a meus irmãos. ”Eu vou para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Maria saiu a correr e a anunciar. O Mestre ressuscitou e foi para o Pai.

O mundo continuamente repete a cena do Calvário. Naqueles que crêem em Cristo, continua o seu martírio. Na sua despedida, na véspera de sua Paixão, Jesus mesmo o predisse: “Se a mim perseguiram, também vos perseguirão; se guardaram minhas palavras guardarão também as vossas. Mas tudo farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou” (Cf. Jo.15,20-21)

Talvez mais que em outras eras, sentimos a atuação do Mistério da Iniqüidade que, vendo que seu tempo está próximo, recrudesce a violência e sofistica os meios para a destruição dos valores do Evangelho e dos que crêem no Cristo, arrancando a fé dos corações.

Sob o brilho efêmero das luzes que não resistem aos “apagões”, e da falsa ciência que não vê que na larva está escondida a vida e, do casulo, em vôo festivo sairá a borboleta, da cruz, continua a jorrar o sangue dos irmãos que são mortos, dos que passam fome e miséria.

Vamos então ao sepulcro onde depositaram o seu Corpo. Mas está vazio. Como Madalena procuramos aquele que amamos e em quem depositamos nossa esperança. Onde está Ele, em quem acreditamos. Se alguém o viu, fale-nos.

E eis que Ele está a nosso lado e nos chama pelo nome. E nos manda anunciar a Vida. Ressuscitado, Ele está vivo entre nós. Os homens quiseram destruí-lo e nele destruir a fonte da Vida, hoje, no segredo da geração, na infância desvalida, na pobreza, no ancião que teima em sentir o palpitar do seu coração, naquele que dá sua vida pela fé e pelo amor a seus irmãos.

E eis que a Vida ressurge em sua plenitude, como da semente que, lançada em terra, morre para florescer incorruptível e em esplendor sem igual. O Cristo ressuscitado já não morre mais. A morte não mais o atinge: ”Cristo, ressuscitado dentre os mortos não morre mais e a morte não tem mais domínio sobre Ele” (Cf. Rm. 6,9). E todos nós que com Ele morremos com Ele viveremos eternamente.

A ressurreição de Cristo, ensina o mesmo São Gregório, é um festa gloriosa para Ele e para nós “porque nos reconduziu à imortalidade” e também para os anjos porque, chamando-nos para o céu, aumentou o seu número. (Cf. Hom.21 sobre o Ev. de Marcos cap.16,1-7)

Discípulos-Missionários, aprendemos a crer no amor infinito do Pai que ressuscitou seu Filho pela força do Espírito. Esse mesmo Espírito que infundiu em nossos corações e pelo qual reconhecemos o Ressuscitado e inflamados de amor o anunciamos ao mundo, testemunhando a Vida que brota da cruz no sepulcro vazio de Cristo.

Maria Madalena não se quedou inerte diante do Senhor, partiu para a missão. Também nós. “Por que procurais entre os mortos, aquele que está vivo? Ele não está aqui, mas ressuscitou.” (Cf. Lc.24,5-6)

Alegrando-nos com a vitória de Jesus, celebrando a Páscoa, levemos este fogo novo que espanca as trevas da noite do pecado, lança longe os crimes e lava-nos as culpas. Restitui a inocência aos que caíram e aos tristes, a alegria.

Anunciemos ao mundo: Cristo ressuscitou. A Vida venceu a morte. Irrompeu entre nós o Reino de Deus. Somos testemunhas.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.


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