"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mascarar as perdas ou aceitar a verdade


Não se deixe vencer pelo cansaço
Provavelmente você já tenha ouvido falar sobre a fábula atribuída a Esopo, lendário autor grego: “A Raposa e as Uvas”. Com pequenas variações, diz a narração que uma raposa vinha faminta pela estrada até que encontrou uma parreira com uvas maduras e apetitosas. Passou horas pulando tentando pegá-las, mas sem sucesso algum... Depois da luta e já cansada pelo esforço frustrado, saiu murmurando, dizendo que não queria mesmo aquelas uvas, porque afinal elas estavam verdes e não deviam ser boas. Quando já estava indo embora, um pouco mais à frente, escutou um barulho como se alguma coisa tivesse caído no chão... Não pensou duas vezes e voltou correndo por pensar que eram as uvas que estivessem caído, pois bem sabia que estavam maduras... Mas ao chegar lá, para sua grande decepção, era apenas uma folha que havia caído da parreira. A raposa virou as costas e foi-se embora resmungando, amargurada, pelo resto da vida.

Isso aconteceu com a raposa da fábula, mas não só com ela. Quantas vezes temos atitudes como esta diante dos nossos fracassos? Aliás, chega a ser uma tendência natural de quem não consegue atingir uma meta: denegri-la para diminuir o peso do insucesso. No entanto, esta postura não resolve o problema, pelo menos para quem deseja viver em paz consigo e com seus semelhantes. Ninguém é feliz, verdadeiramente, se não vive na verdade. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8, 32).

É verdade que precisamos aprender cada vez mais a difícil arte de saber perder para mantermos a paz interior, já que constantemente, conscientes ou não, vivemos a dinâmica da conquista e da perda. Se não lidarmos pacificamente com esse processo, correremos o risco de fugirmos da realidade e mentirmos para nós mesmos, quando a saída seria admitirmos nossos limites e buscarmos a superação com humildade e reconciliados com a dinâmica da vida.

A raposa sabia que as uvas estavam maduras e apetitosas e foi injusta consigo ao afirmar que estavam verdes e que não tinha interesse nelas. E nós? Nunca agimos assim? Ao mentirmos para nós mesmos optamos por viver na ilusão, travamos um duelo entre a verdade que está diante dos nossos olhos e a mentira que escolhemos ostentar. Não podemos seguir o exemplo do animal narrado na fábula. É tempo de reconciliação com a verdade que se esconde entre as máscaras, as quais, mesmo sem perceber, muitas vezes, vamos usando para disfarçar a dor das perdas.

A vida nos ensina que nem sempre ganhamos e nem sempre perdemos, mas uma coisa sempre acontece: acrescentamos experiência à nossa existência. Os erros trazem grandes lições e os acertos também, é preciso estar atentos aos detalhes.

Quando tudo parece perdido, calma! Sempre existe uma maneira de “virar o jogo”; por meio da fé, sabemos que Deus é o principal interessado em nos ajudar. Seu maior desejo é nos ver felizes. Recorramos a Ele!

Por mais que as “uvas”, que você deseja hoje, estejam distantes do seu alcance, não se desespere nem se engane dizendo que elas estão “verdes”. Admita a perda e lute pela vitória. O tempo é nosso aliado também nessa matéria.

Quem sabe se a raposa tivesse esperado um pouco não tivesse visto as uvas caírem aos seus pés? Talvez a vida hoje esteja lhe pedindo calma... O imediatismo próprio da nossa época, muitas vezes, nos rouba a sublime arte do saber esperar o tempo certo para cada coisa. Grandes sábios da história ensinam de diversas maneiras essa mesma lição.

Esperar o tempo de Deus, reconciliado com sua verdade, pode ser o caminho seguro para a felicidade que você procura. A cada amanhecer temos uma nova chance de acertar. Recomeçar, entre perdas e ganhos, faz parte da bonita dinâmica da vida.

Coragem! Temos um novo dia, uma nova chance.

Estamos juntos!

Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ser melhor exige tempo

Se não tivéssemos aprendido um pouco sobre a metamorfose das borboletas, sequer poderíamos imaginar que o mesmo inseto que esvoaça entre flores, teria sido uma asquerosa lagarta, que semanas antes estava se rastejando pelo mesmo jardim.
Foi necessário interesse e maturação para se estudar o delicado comportamento dessas lagartas, do contrário, teríamos emplacado no extermínio daquela devoradora de plantas e erradicaríamos da natureza a beleza colorida, que vivifica os bosques.
Uma dedicação semelhante se faz necessária para cada um de nós, quando a questão envolve vidas e comportamentos.

Como seria fácil se para o nosso convívio diário – diante das divergências e na tentativa de convencer alguém sobre uma determinada opinião –, pudéssemos inserir um cartão de memória pré-programada, para obter os resultados esperados, como fazemos em máquinas… ou ainda, não estando satisfeitos com as atitudes e procedimentos de alguém, simplesmente cortássemos o contato com ele, como podamos os ramos de uma árvore em nosso jardim.

Por diversas vezes, já tivemos muita vontade de “abrir” a cabeça de alguém e fazer com que entendesse o nosso pensamento para que vivesse a nossa vontade. Entretanto, bem sabemos que diante de tais desafios, o desejo de tomar atitudes enérgicas, muitas vezes apoiados na autoridade do nosso autoritarismo, quer, na verdade, sufocar a “metamorfose na vida” daqueles que ainda precisarão atingir o amadurecimento, como ocorre com as borboletas.

Quão dedicado e bondoso é o nosso Deus que, percebendo os riscos que corremos diante das nossas próprias atitudes, não lança mão de toda Sua poderosa autoridade, prendendo-nos em lugar seguro, cortando nossas pernas, língua, olhos ou qualquer outro membro que poderia nos fazer sucumbir a gestos, que não O agradariam… Contudo, nada disso acontece pois Ele é incapaz de querer o nosso mal e respeita a liberdade de cada um de Seus filhos.

Tendo como modelo de comportamento Aquele que, desde o princípio, conhece a importância de cada um de nós para compor a alegria do mundo, esforcemo- nos em acolher e respeitar o tempo de transformação daqueles que nos rodeiam, entendendo que para cada um foi dado um “colorido” especial.

Do mesmo modo que posso vê-lo como “lagarta”, outros poderão me ver envolto num “casulo”.

Abraços

Dado Moura

Publicado no Blog Comportamento

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Evangelização por meio da Internet

Neste episódio, Willieny Isaias, gerente de conteúdo do Portal Canção Nova, conversa com Padre Luizinho, da comunidade Canção Nova. Partilhando sobre o seu trabalho evangelizador pelo blog Canção Nova e Twitter.

Confira:

Ele fala da importância de usarmos de todos os meios para evangelizar, especialmente a internet que possibilita levar a Palavra a lugares inimagináveis. E para que isso aconteça, o evangelizador precisa estar conectado não somente na internet, mas conectado muito mais em Jesus e na Igreja. Muito mais que conhecimento é preciso ter conteúdo.

Como baixar:

Ao ir para a página do Podcast da Redação, você encontrará uma seta abaixo de cada arquivo de áudio; clique para baixá-lo em MP3.


Publicado no Blog da Comunidade Canção Nova

Para ouvir melhor, faça uma Pausa na Radiola do Círculo Verde (barra lateral esquerda).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Submissão: um significado diferente

Todos trazemos no íntimo o desejo de ser bons, no entanto, o nosso empenho em nos aplicarmos a isso e às mudanças necessárias para o bom convívio perdem o interesse quando precisamos nos fazer submissos à vontade ou às justificativas do outro.

Ser bons com as pessoas somente nos momentos em que estamos nos relacionando a distância ou nos breves momentos de encontros pode até parecer fácil. Entretanto, ainda que o mundo moderno esteja diminuindo as distâncias por intermédio da tecnologia, um relacionamento, para se tornar fecundo, não se faz somente por meio de breves cumprimentos ou de momentos mantidos por contatos telefônicos.


Ouça comentários adicionais

Já foi comentada, em outros artigos, a necessidade de nos moldarmos às situações comuns estabelecidas dentro de um relacionamento. E entre muitos exemplos apresentados para viver a sadia convivência, podemos compará-la ao enxerto, em que duas pessoas se unem para formar uma nova, com riquezas comuns. De maneira especial, tal exemplo, me parece ser ainda mais apropriado para o relacionamento conjugal. Pois se trata de um casal que se une no propósito comum de uma vida a dois, dispostos, a partir dessa união, a gerar filhos.

Aqueles que se dispõem a viver um relacionamento e a trocar experiências de vida, de certa maneira, se colocam dispostos a aprender com aquilo que a outra pessoa pode oferecer. Além de juntos propiciarem agradáveis momentos um ao outro, devem também estar dispostos para enfrentar os desafios próprios, estabelecidos pelo relacionamento conjugal.

Tais desafios tocam pontos nevrálgicos, como, por exemplo, viver a submissão ao outro. Uma palavra que nos traz à mente o símbolo de poder e opressão. Pois associou-se a essa palavra a atitude daquele que é subjugado, daquele que se anula diante do outro que detém autoridade. Talvez, por esse motivo, a maioria das pessoas tenham riscado essa palavra do seu vocabulário e por ser tão difícil assimilar tal gesto.

Contudo, também fomos submissos quando, de maneira voluntária, nos entregamos ao conhecimento e à “autoridade” do professor ao aceitar as regras impostas pela matemática. A fim de aproveitar das benesses do conhecimento, subjugamo-nos à autoridade daquele que mais sabia, e este [o professor], na sua autoridade, submeteu-se às limitações dos alunos para lhes favorecer a transformação de suas vidas, com a luz do saber.

A submissão é uma atitude mútua, independente daquele que julga ter mais autoridade se comparado ao outro. Ela significa limitar-se voluntariamente ao outro sem contrariar a nossa consciência ou nos obrigar a fazer algo condenável ou à força.

Se dentro de um relacionamento alguém tem mais autoridade em determinada situação sobre a outra pessoa, em vez de fazer dessa autoridade um instrumento para tirar vantagens, que se seja submisso na maneira de tornar a vida daqueles que estão à sua volta mais fácil. Para isso é necessário que cada um de nós trabalhe em nossas próprias atitudes, utilizando-nos desse ato de viver a submissão como “óleo” que lubrifica as engrenagens dos nossos relacionamentos.

Acesse a página sobre dicas de leitura

Um abraço

Dado Moura

Pubicado no Blog Comportamento

domingo, 9 de agosto de 2009

Pai, expressão de heroísmo


Toda criança deseja ter orgulho do pai e falar dos seus feitos

Nas fantasias de nossa infância, alguns personagens fazem-se presentes por atos extraordinários de bravura. Atraem a admiração e transformam o imaginário no comum das brincadeiras. Homens com superpoderes, que não conhecem as fragilidades dos mortais e são capazes de proteger a paz e a ordem do universo. Têm o ofício de vencer o mal, com o qual travam épicas batalhas. Eles são os super-heróis. Esses seres estimulam as crianças a quererem imitá-los em seus trajes e em seus feitos. Por tudo isso se tornam um marco na primeira etapa de nossas vidas.

Nós associamos heroísmo com um ato incomum e grandioso; a definição de herói é: “Aquele que se distingue por seu valor ou por suas ações extraordinárias” e também: “Quem arrisca a própria vida ou morre por um ato nobre.”

Há, no cotidiano, alguém que, desde nossa tenra idade, diferente de feitos grandiosos e ilusórios, torna-se herói pelo comum de gestos concretos e que, mesmo com seus limites, livra-nos dos perigos. Chamamos essa pessoa de “pai”.

Pai é a pessoa do sexo masculino que participa da geração de uma vida. Mas o ser paterno vai além de doar sua genética à gestação do um novo rebento. Pais são heróis que formam pessoas. São aqueles que, na ausência de forças sobre-humanas, são capazes de agregar valores ao coração dos filhos e entregar suas vidas por amor a eles.

No simples exercício do dom da paternidade, o genitor vai tomando feições de um homem incomum, atraindo a admiração dos filhos e tornando-se referência para a vida destes. É o exemplo a ser alcançado na forma como desenvolve seu profissionalismo, no trato com a esposa, nas direções da condução do lar, no sustento que provê, mas principalmente no amor que inspira suas ações.

Toda criança deseja ter orgulho do pai. Falar dos seus feitos para os amigos. Com o passar dos anos, vamos nos esquecendo das capas voadoras, dos artifícios e habilidades fantásticas que embalaram nossos sonhos infantis.

Aquele homem, herói comum do dia a dia, pode não ter mais o mesmo vigor, mas, nos traços do rosto ou no grisalho dos cabelos existe um sinal de luz, sabedoria adquirida da experiência, ao qual o filho pode ainda recorrer e, como no início, saber que esse seu poderoso aliado está sempre pronto a perpetuar o carinho e o amor até os dias do seu ser adulto.

Neste Dia dos Pais, demonstre a gratidão de quem teve uma experiência com um verdadeiro ser heroico. Afinal, o amor paterno recebido prepara o filho para vencer desafios e conquistar o mundo inteiro.

Feliz Dia dos Pais!

Deus abençoe a todos.

Sandro Ap. Arquejada - Comunidade Canção Nova
sandroarq@geracaophn.com

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Os amigos nos ajudam a enxergar


As lentes são muito frias, não conseguem nos deixar ver por dentro

Uma menina muito esperta olhava, sentada aos pés de sua mãe, a costura que ela estava a bordar. Vendo de baixo a garota estava confusa, pois via um emaranhado de linhas de várias cores, mas sem sentido, não dava para entender nada. Incomodada, perguntou: – “Que está fazendo, mamãe, com tanta atenção neste monte de linhas? Eu não estou entendendo nada”. A mãe lhe respondeu: – “Estou bordando uma linda peça para enfeitar o seu quarto”. Imediatamente retrucou a menina: – “Eu não quero esse desenho feio!” A mãe, com toda calma, disse: – “Levante-se do chão e sente-se aqui do meu lado, para que você possa ver de cima, pois de cima se enxerga diferente”. Então ela viu um lindo arco-íris com todas as cores e bem feitinho.

De cima se veem as coisas de modo diferente. Quantas vezes, estamos exatamente como essa garota: olhando as coisas de baixo, no emaranhado, no burburinho, na agitação. Julgamos as coisas e as pessoas por aquilo que vemos ou por aquilo que nos falaram. Dessa forma, não temos a visão verdadeira da realidade e, por isso, muitas vezes, desanimamos e abandonamos um sonho, um projeto, ou desistimos de algo ou de alguém. Tudo isso, porque não decidimos ver as coisas do alto, de cima. Precisamos nos distanciar para ver melhor, ver os detalhes e entender o contexto.

Eu preciso de lentes especiais para que eu consiga enxergar o real e não ficar com as aparências, os “pré-conceitos”. Porque o essencial é invisível aos olhos, como lemos em “O pequeno príncipe”! É preciso alargar a visão, pois nem tudo que reluz é ouro, assim como nem tudo que brilha demais é precioso. Percebo o quanto a minha visão limitada me atrapalhou, pois o que eu via era uma parte e não o todo. Porque Deus nos surpreende, porque Ele nos enxerga no todo e não pela metade, por isso, nos ama. As lentes são muito frias, não conseguem nos deixar ver por dentro, por isso, eu preciso de lentes humanas e confiáveis.

Hoje eu me decido a ver as coisas de cima e não de baixo, não vou me contentar com minha visão e meus conceitos limitados. O amigo verdadeiro sempre nos enxerga na medida certa, não nos esconde a verdade nem fica mascarando as coisas. Eu posso dizer que meus amigos são minha segunda visão, e na maioria das vezes enxergam melhor do que eu. Quanto mais diferente o amigo, melhor é, pois é na auteridade, na diferença, que eu muitas vezes me descubro, afinal “as diferenças não são barreiras, são riquezas!”

Alarga, Senhor, a minha visão, cura a minha miopia, dai-me as lentes da Verdade e da Caridade. Mas, como mesmo de óculos eu não enxergo, dai-me muitos e verdadeiros amigos: “Amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro” (cf. Eclesiástico 6, 14-17).

Se você anda enxergando pouco, onde estão os seus amigos? Enxergar sozinho é pobre, é tão bom saber que posso dividir ou somar minha visão com meus amigos, eles “são o meu segundo coração”. É muito bom saber que não estou sozinho. Procure alargar a sua visão, não tenha medo dos outros.

E aos meus amigos: obrigado por me fazerem enxergar melhor. Muitas vezes os amigos se ausentam para que eu possa enxergar sozinho. O respeito é fundamental na amizade, por meio dele você consegue tirar as vendas do orgulho dos olhos de alguém.

Aos meus amigos que me ajudam a enxergar: obrigado!

Minha bênção amiga!

Padre Luizinho - Sacerdote Canção Nova

Publicado no Portal da Comunidade Católica Canção Nova

domingo, 2 de agosto de 2009

18º Domingo do Tempo Comum



18º Domingo do Tempo Comum

Quer ser santo? Assuma que você é fraco!

É uma riqueza insondável este texto de São Paulo: II Coríntios 12,1-10. O apóstolo nos fala que, para seu espírito não se encher de orgulho e vaidade, foi lhe colocado um "espinho na carne".
Padre Fábio de Melo
Foto: Arquivos CN

Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer em que nós precisamos melhorar. Contudo, esse é um grande desafio para todos nós, porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Sabe por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fraquezas há uma série de repreensões diante de nós.

Você já reparou que nós não deixamos a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele? Fazemos uma série de "caras feias" para ver se calamos a criança, para tentar espantar a fragilidade.

Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo o mundo feliz! Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faça esquecer nossos limites.

Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo em que ainda temos de melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estamos prontos, não somos perfeitos, estamos por ser feitos, estamos sendo feitos aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos nós vamos descobrindo onde é que dói “esse espinho” de que fala o apóstolo dos gentios. Esse espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, tanto maior é a facilidade de conhecer limites.

Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos de tirar aquilo que não nos pertence. Existem algumas inflamações do espírito, da personalidade, porque há pessoas que são tão aborrecidas que a gente não pode nem encostar nelas. São aquelas inflamações que se alastram.

E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que você seja um “anjinho” na terra, mas que você deixe de ser “inflamado”! Ele quer lhe mostrar as inflamações para que você lute contra elas.

Cara feia, arrogância, tudo isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o “espinho”? O medo, a insegurança.

Você já fez a experiência de viver uma palavra que fizesse com que saísse tudo o que estava estragado em seu interior? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora. Ter condições de deixar “vazar” aquilo que antes desconhecíamos é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.

Muitas vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, – porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar aonde chegamos –, perdemos o direito de chorar. E por diversas vezes choramos e não sabemos por que estamos chorando.

O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, nós sangramos. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso.

Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém que teve a coragem de sangrar, porque não teve medo de mostrar as próprias fragilidades?

Nós somos todos iguais. Nós músicos somos todos iguais. Não adianta fingirmos que somos fortes ou ficar fingindo que não sentimos nada e que não temos medo. Eu não sei se existem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Para quantas pessoas você teve coragem de sangrar? Pessoas que o enxergam por dentro são raras.

Conversão é isso. É você educar o seu filho para que ele possa lhe contar onde estão os “espinhos”. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos de trabalhar para que sejamos melhores.

A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, nos quais a gente tem coragem de tirar a couraça. É muito melhor admitir que temos medo. Para as pessoas é sempre doloroso ter de tirar os “espinhos” e ver vazarem as inflamações.

Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Muitas vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas acham de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.

Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.


Padre Fábio de Melo
Apresentador do programa 'Direção Espiritual'

Publicado no Portal da Comunidade católica Canção Nova