"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O primado da consciência


Quem deseja reformar o mundo, deve começar pela reforma da própria consciência

O valor do homem está naquilo que ele é. E a grande maravilha do seu ser está na sua "imagem e semelhança" com Deus. Isto é, o homem é rico de "origem". Todo o universo, incluindo a terra e a beleza da natureza, é uma manifestação da glória do Senhor Onipotente. Contudo, a mais perfeita manifestação do Todo-Poderoso é a criatura humana. Cada pessoa, naquilo que ela tem de bom, é uma manifestação da glória e do poder de Deus. Alceu Amoroso Lima dizia que "o homem é a maior das virtualidades vivas".

Na essência do seu ser ele herdou do seu Senhor a inteligência, a liberdade, a vontade, a sensibilidade, a consciência… Esses atributos o colocam na posição de "rei" do universo já que por meio deles submete a si toda a criação. Só ele tem "mãos" e "inteligência". De todos esses atributos a primazia está com a consciência porque ela é a luz que ilumina e dirige o exercício dos demais talentos. Sem uma consciência reta, uma grande inteligência pode gerar muito mal; sem ela, a liberdade deságua na libertinagem e as demais riquezas inatas no homem podem se corromper.

Ela é o espaço sacrossanto de cada indivíduo, inviolável, na qual somente ele pode entrar e "estar a sós" consigo e com o seu Senhor. A “Gaudium et Spes”, do Vaticano II, ensina que:

"Na intimidade da consciência o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei soa aos ouvidos do coração […] É uma lei inscrita por Deus no coração do homem […] A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz" (GS 16).

Newman, falando da consciência, afirmava:

"É a mensageira daquele que, no fundo da natureza bem como no fundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo".

Santo Agostinho também nos chama a sempre voltar para ela:

"Volta à tua consciência, interroga-a […]. Voltai, irmãos, ao interior, e em tudo o que fizerdes atentai para a testemunha, Deus" (Jo 8,9).

Por isso, se o homem destruir dentro de si este santuário íntimo e fizer calar a voz nítida desse "silêncio", pelas motivações exigentes do exterior, ele estará destruindo o que há de mais caro e mais "sagrado" no seu ser. Estará se destruindo naquilo que ele é no seu "ser", comprometendo todo o projeto da sua existência.

O mundo jamais poderá ser humano enquanto cada homem não deixar de pisotear a própria consciência. Será inócuo encher as páginas de leis e de códigos, como também será inócuo encher as ruas de policiais enquanto a humanidade não for chamada a cultivar a consciência individual. Quem deseja reformar o mundo, deve começar pela reforma da própria consciência.

A maior e última de todas as lições que meu pai deixou a nós seus filhos, já no final da sua vida, como que resumindo toda a experiência acumulada, foi esta: "Filho, não faça nada contra a sua consciência!" Jamais conseguirei esquecer essas palavras! Gostaria de repeti-las milhões de vezes para milhões de pessoas: "Não faça nada contra a sua consciência"; não compensa. Nem o dinheiro vil, nem o poder, nem a fama, nem o prazer, tampouco a glória podem compensar o massacre da consciência, pois significa o massacre de si mesmo.

E, lamentavelmente, é este triste espetáculo que assistimos hoje: o "massacre da consciência". Por isso vemos a sociedade esfacelada. Colbert dizia "A grandeza de um país não depende da extensão do seu território, mas do caráter do seu povo". Esse caráter é o fruto de uma consciência bem formada, a qual Pascal dizia ser "o melhor livro de moral existente; e aquele que mais devia ser consultado".

A maior crise da sociedade é a da consciência de cada cidadão, dos governantes e dos governados. Rouba-se, mata-se, corrompe-se, tapeia-se, prostitui-se, engana-se… como se as consciências estivessem mortas e como se Deus não existisse.

É a grande decadência do homem: "vendendo-se a si mesmo" pelo preço vil da satisfação dos seus baixos instintos.

Urge que se recuperem as consciências, formando-as no seio dos lares, nos bancos das igrejas e das escolas, nas ruas e nas praças, nas oficinas e nas fábricas. É preciso dar a elas o referencial absoluto da verdade revelada por Deus, para que elas sejam bem formadas. Para que elas não sejam laxas nem escrupulosas, terão de se alimentar da Palavra de Deus, como diz São Paulo, "viva, eficaz, penetrante, capaz de separar a alma do espírito, discernindo os pensamentos e sentimentos do coração" (Hb 4,12).

O Catecismo da Igreja Católica ensina que:

"Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educação da consciência é indispensável aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferirem o próprio juízo e a recusar os ensinamentos autorizados […]. A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida […] garante a liberdade e gera a paz do coração.

Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho; é preciso que a assimilemos na fé e na oração e a coloquemos em prática […]. É preciso ainda que examinemos nossa consciência confrontando-nos com a Cruz do Senhor. 'Somos assistidos pelos dons do Espírito Santo, ajudados pelos testemunhos e conselhos dos outros e guiados pelo ensinamento autorizado da Igreja' (1783-1785)".

São Paulo nos adverte que a Palavra de Deus "é útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra" (II Tim 3,16-17).

Ela é o melhor meio para formar uma consciência reta.

"Quanto mais prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio e se esforçam por conformar" se às normas objetivas da moralidade" (GS, 16).

Sem as âncoras presas em Deus, no Absoluto, nenhum homem terá uma consciência bem formada. Contudo, há que buscar o Deus único e verdadeiro; não aquele como muitos andam fazendo, hoje, criado a seu bel-prazer.

Para que não houvesse dúvida de quem Ele é, Deus se manifestou na plenitude da sua divindade em Jesus Cristo. Ele é a luz da consciência e a salvação do homem.

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Padre Anderson Marçal

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O segredo é perdoar


Caridade é dar-se inteiro a alguém que não merece

Para perdoar os outros devemos sempre nos lembrar de como Deus nos perdoou em Cristo. Devo perdoar quem me ofendeu não porque eu seja bom ou a pessoa seja boa. Devo perdoar não porque a pessoa mereça ser perdoada. Afinal de contas, se formos tentar saber se a pessoa tem ou não tem a culpa, se fez aquilo consciente ou inconscientemente, acabaremos por cair no murmúrio, até porque naquele momento nosso coração está ferido e machucado e, numa situação assim, ninguém consegue pensar corretamente. Logo, para evitar qualquer possibilidade de alimentar a mágoa, o segredo é perdoar imediatamente. E perdoar como o Senhor nos perdoa. Para isso é preciso revestir-se da caridade.

Caridade não é dar alguma coisa a alguém. Isso é filantropia. Caridade é dar-se inteiro a alguém que não merece! Foi isso que Jesus fez por mim e por você. Foi isso que Jesus fez pela humanidade inteira. Ele se ofertou, inteiramente, a todos, inclusive àqueles que estavam sendo usados para crucificá-lo: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

Jesus, na cruz, nos ensina um dos grandes segredos para a cura do ressentimento: Declarar o perdão! Independentemente do fato de o outro merecer, eu preciso perdoar e declarar o perdão. Ao rezar ao Pai pedindo que perdoasse aqueles que o estavam matando, Cristo nos ensinou uma oração de cura do ressentimento para ser usada em todas as circunstâncias, inclusive naquelas em que não estamos conseguindo perdoar. Ao pedir ao Pai que perdoasse aquelas pessoas, Jesus nos ensinou a contar com o Pai nas situações mais difíceis de nossa vida. Mostrou-nos que o Pai está sempre pronto a nos ajudar a perdoar. Ensinou-nos também que, quando não conseguimos perdoar, devemos pedir ao Pai que perdoe em nosso lugar. Mas está implícita também, na oração do Senhor, a verdade de que toda ofensa dirigida a alguém sempre termina por acertar no coração do Pai. Tudo o que fazemos de mal a alguém atinge afinal também o coração do Pai, pois Ele nos ama e nos fez imagem e semelhança d'Ele.

Como imagem e semelhança que somos de Deus, precisamos dar um passo a mais e nos transformar em filhos do Pai do Céu. Só nos tornamos verdadeiramente filhos de Deus quando passamos a agir segundo Deus. Quando não perdoamos, nos assemelhamos ao encardido e aos poucos nos tornamos filhos dele, quando o reproduzimos em nossos sentimentos e depois em nossas atitudes. O filho deve ter a cara do pai. O filho traz consigo o sangue do pai. Se fizer um exame genético no filho, acaba-se por descobrir o pai. Por isso tanta gente faz hoje o exame de DNA.

Quando cheguei a Nagoya, uma das maiores cidades do Japão, vi um jovem com uma camiseta na qual estava estampada a sigla DNA – e sob ela algo que um dia eu disse num acampamento da Canção Nova: Deus, nosso Autor!. Fiquei tão feliz em ver uma frase que tive a inspiração de dizer estampada naquela camiseta. Imagine, então, a alegria de Deus quando vê estampado em nosso coração o amor que Ele semeou em nós. Somente pelo perdão vivido explicitamente é que nos tornamos, de fato, filhos e filhas de Deus. Enquanto não perdoamos, estamos vivendo como se fôssemos adotados pelo encardido. Aliás, muitas vezes, nos comportamos assim.

É preciso perdoar sempre e perdoar especialmente os que não merecem nosso perdão. Esse é o segredo que nos faz agir como filhos e filhas de Deus.

(Trecho extraído do livro "A Cura do Ressentimento" do saudoso padre Léo - SCJ).

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Amar é: voltar a ser especial


Dizer que amamos alguém é muito mais que expressar o que sentimos

Dizer que amamos alguém é muito mais que expressar o que sentimos; é deixar claro para a outra pessoa que estamos dispostos a realizar todas as coisas para fazê-la feliz ao nosso lado. Embora o amor seja definido como um sentimento, a manifestação dessa emoção é traduzida em gestos e atitudes. Isso se aplica também ao amor entre irmãos, pais, filhos, colegas... e em nada esse “bem-querer” se difere – em intensidade – da manifestação vivida entre homens e mulheres decididos a viver o desafio da vida comum compartilhada.


:: Ouça comentário do autor


Quanto mais convivemos com as pessoas, tanto maior é o nosso conhecimento a respeito delas. Assim, apesar de manifestarmos e dizermos por várias vezes que amamos alguém, também estamos sujeitos a outros sentimentos, como raiva, medo, inclusive, certa insatisfação, mesmo que seja por alguns momentos. Da mesma maneira que a febre no organismo pode indicar infecção, as possíveis insatisfações no relacionamento são indicadoras de uma situação que merece atenção especial.

Ninguém reclama da falta de alguma coisa sem antes ter experimentado suas vantagens. Sabemos o quanto é bom ter a atenção e o carinho de alguém voltados para nós; todavia, muitas vezes, no convívio do dia-a-dia ou tomados por outros afazeres, deixamos de lado coisas simples, mas de grande importância para a manutenção do casamento. Hábitos que anteriormente eram comuns no tempo de namoro ou no início da vida conjugal, infelizmente se tornaram raros por parte de um dos cônjuges, ao longo dos anos, como passear de mãos dadas, trocar beijos e carinhos, assim como outras afabilidades no tratamento.

Ao deparar com a rarefação dos carinhos e das delicadezas, anteriormente presentes na vida dos casais, pode-se achar que o relacionamento conjugal está fadado à mesma rotina de outros – muitos dos quais não podem nos servir de modelo. No entanto, não podemos permitir que os problemas e as insatisfações manifestadas roubem de nós a pessoa amada. O descaso às queixas do cônjuge acabará por extinguir da vida do casal aquilo que foi objeto da reclamação. Antes melhor denunciar aquilo que é de desagrado.

Tentar acostumar-se com a situação, ridicularizá-la ou responder com sarcasmo ao que foi relatado, apenas provoca feridas e pode provocar consequências desastrosas para aqueles que, até pouco tempo, eram cúmplices em seus propósitos. Portanto, uma vez conhecidos os entraves da convivência, não podemos nos comprometer somente com promessas de mudança, pois estas precisam ser assumidas com atitudes.

Assim, revigorados pela disposição em voltarmos a ser especiais ao outro, evitaremos que os muros das superficialidades e do individualismo surjam no campo dos sentimentos, nos quais paredes jamais podem existir.

Comentários deste e outros de artigos no podcast 'Relacionamentos'

Um abraço,

Dado Moura
dado@dadomoura.com

Publicado no Blog Comportamento

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Humanidade Moderna


A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida

O valor do homem está naquilo que ele é, não naquilo que faz ou tem. Na essência do seu ser ele herdou do seu Senhor a inteligência, a liberdade, a vontade, a sensibilidade, a consciência. “Na intimidade da consciência o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer” (Gaudium et Spes, n. 16).

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz: “Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educação da consciência é indispensável aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferirem o próprio juízo e a recusar os ensinamentos autorizados… A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida… garante a liberdade e gera a paz do coração” (CIC 1783).

Não há dúvida de que a liberdade é um dos mais belos dons que Deus concedeu a nós, seres humanos. Quando nos criou, o Senhor nos amou tanto que nos deixou livres para acolhê-Lo ou recusá-Lo. A liberdade caminha de mãos dadas com a responsabilidade; sem esta, o que era liberdade passa a ser escravidão. “O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre seus atos” (CIC 1734). “O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que o homem, sujeito da liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos” (CIC 1740).

O homem recebeu de Deus o poder de decisão (cf. Eclo 15,14), mas também recebeu a graça para que possa decidir-se pelo bem; buscar a sua essência, que é o amor. A liberdade não é dos escravos, mas dos filhos. “Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,35). Sedento de liberdade, precisa o homem moderno compreender que a verdadeira liberdade encontra-se somente em Cristo. Tanto mais livre é o homem quanto mais ele capaz de escolher e fazer o bem.

“O homem procura sempre um significado para a sua vida. Está sempre se movendo em busca de um sentido de seu viver” (Victor Frankl). O sentido não pode ser dado. Os pais não podem prescrever ao filho o que é sentido, nem o chefe ao seu empregado, nem o médico ao paciente. O sentido, pois, como resposta à pergunta “para que” ultrapassa os limites estreitos em direção a uma conexão (próxima) maior, a partir da qual ele [sentido] possa ser entendido. Para a compreensão do sentido é importante somente a compreensão de nós mesmos. (Quem sou eu?).

O sentido para todos os tempos — este é impossível de aprendermos. O sentido para a nossa vida — este nós não possuímos. O que se entende por sentido é sempre uma possibilidade a ser apreendida e realizada de modo concreto que possui o sentido concreto. Ele sempre vai ao nosso encontro sob a forma de situações de vida concretas.

A chave para o sentido é a abertura do homem, consiste em se voltar para a vida. A primeira coisa a ser abordada é a visão ontológica do homem. (O QUE É O HOMEM?): Pessoal, Filho(a) de Deus, Esposo(a), Paternidade / Maternidade, Profissional. Esta escala de valores muitas vezes está desestruturada ou desregulada.

Para que eu me encontre com Deus é preciso me encontrar no meu pessoal. Encontre a maneira que eu me coloco como colaborador de Deus na missão de diretamente cuidar de alguém no amor. Esse amor gera em cada pessoa um terceiro. Para que eu possa construir uma saciedade melhor eu busco ter uma missão-profissão.

Esta é a minha escala como pessoa? Qual o sentido que eu estou dando para cada área da minha vida? O que pesa mais hoje? E como posso colocar cada coisa no seu devido lugar? Quero ajuda? Tenho coragem de pedir?

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Padre Anderson Marçal
Comunidade Canção Nova

domingo, 18 de janeiro de 2009

2º Domingo do Tempo Comum

Descobrir meu lugar na Igreja

Dom Alberto Taveira
Queridos irmãos e irmãs, poderia o barro reclamar com o oleiro? Achar ruim pelas formas com que foi feito aquele jarro bonito ou quem sabe uma vasilha para conservar água fresca? Quem é capaz de moldar objetos de barro, de cerâmica, põe a sua alma na arte que faz, põe tudo que é capaz e expressa uma visão das coisas que tem.

Nós somos obras deste artista que é Deus, e Deus é o melhor artista. E toda a obra que realizou o Senhor nosso Deus é bem feita. Nenhum de nós foi mal feito. Ou como ouvi uma um dia dizendo: “Nenhum foi feito no rascunho”. Deus nos fez como obras primas.

Se você quebra aquele vaso, São Paulo diz que, ainda que seja um vaso de barro, ele carrega um tesouro impressionante. Você já tentou emendar um jarro bonito? O remendo fica muito feio. Por isso que as pessoas se tornam infelizes, porque não descobriram a grande maravilha que está em você buscar a obra do artista que foi o autor da sua vida.

Hoje, o apostolo São Paulo nos recorda: o nosso corpo foi feito para o Senhor, e o Senhor para o corpo. E observa: 'será que vocês não perceberam que vocês são templos onde o Espírito Santo habita? O Espírito Santo de Deus habita em cada um de nós e você será feliz na medida em que percorrer toda a sua existência entendendo a beleza da obra de arte que Deus fez.

Esta obra de arte tem seu nome, tem essa marca, tem a assinatura de Deus feita no seu batismo. Eu via nesses dias um artigo em uma revista sobre obra de arte especialmente em cerâmica de algumas regiões do Brasil, e havia uma observação a respeito de um artista, que dizia que cada uma das obras que realiza é totalmente original. Deus é assim conosco, quando você descobre o plano deste artista, você é feliz.

Em um tempo em que a Palavra de Deus andava rara, não é que Deus não falasse, mas os ouvidos é que estavam sendo fechados. Mas um jovem, Samuel, precisou aprender a discernir: Três vezes escuta um chamado, até que o sacerdote lhe diz: da próxima vez você responderá: “fala Senhor que o teu servo escuta!”. Isso tem o nome de vocação.

Samuel, que depois observa as escrituras, não deixava cair no chão nenhuma das palavras do Senhor. Sua vocação, sua vida começou a ser pautada, não por simplesmente perguntar 'o que eu quero', 'o que eu gosto', mas 'o que o Senhor quer de mim?', 'o que o Senhor pensa para mim?'.
'Existe um chamado de Deus para você'
Já pensaram que revolução se todos nós que estamos aqui, a partir de agora, com a força da palavra que escutamos hoje, estivéssemos dispostos a dizer: 'eu não vou mais usar o meu corpo apenas segundo os meus impulsos, mas vou buscar a palavra do Senhor para que esse corpo que é templo do Espírito Santo seja santo'.

Duas idéias que quero deixar no coração de todos: Nós fomos criados como obra prima de Deus, ninguém é rascunho, ninguém é obra mal feita. Segundo: para eu ser feliz é necessário aprender este discernimento e não deixar cair nenhuma palavra do Senhor, antes, responder a esta palavra, ter a coragem de dizer o 'sim'. Gosto de recordar João Paulo II dizendo: “Não existe cristão sem vocação”. E ele explicava: 'a vocação é um olhar de amor de Deus sobre cada pessoa. '

Eu tenho procurado plantar isso em vários lugares. Em paróquias, nós precisamos não só fazer uma pastoral das vocações para a vida religiosa, sacerdotal ou missionária, mas também uma pastoral vocacional para o matrimonio, até porque hoje, cresce o numero de pessoas que não querem nem se casar, nem ser padre, nem se consagrar de forma nenhuma. Querem apenas desfrutar a própria vida. São homens, e mulheres, jovens e adultos destinados a infelicidade.

Vocação é quando você descobre o 'como' você vai entregar a sua vida. Que bom se você pudesse descobrir que existe um chamado de Deus para você, não só se casar, mas para viver e receber o sacramento do matrimônio.

Qual é o seu lugar na Igreja? Como fazer para descobrir? Dirijo-me especialmente aos adolescentes e jovens: Hoje, dois discípulos de João Batista escutaram João que aponta para Jesus e diz assim: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” Ali está o Cordeiro de Deus. E eles vão atrás de Jesus. Aqui está o ponto de partida, para você descobrir o seu lugar na Igreja, para você realizar os seus dons.

O primeiro passo para alguém fazer essa experiência de discípulo, é o encontro com Jesus Cristo.
Hoje eu faço um apelo muito especial, a jovens, rapazes e moças, que sentem essa inquietação no seu coração. Ninguém se exclua desta provocação, descubra o seu jeito de responder a nosso Senhor, porque você não pode ficar fora disso. Não mandei você ser batizado. Por isso, se feito cristão, templo do Espírito Santo, sua vida tem agora esta marca, de responder ao convite d’Ele.



Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Palmas/TO e Diretor Espiritual da RCC no Brasil

Transcrição e adaptação: Célia Grego
Publicado no Portal da Comunida Canção Nova

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cultivar as sementes da FÉ: eis a nossa vocação!

Um novo tempo se descortina diante dos nossos olhos. É Ano Novo! Tempo de cultivar as sementes dos sonhos, tempo de converter “pedras e cascalhos” em verdadeiros diamantes... É tempo de irrigar com a esperança os nossos propósitos e nossa vocação. É sobretudo, o tempo de vivermos ancorados na FÉ. E aqui é interessante porque nossa experiência de com Deus nos aponta que é preciso pavimentar sempre os caminhos da nossa história com o alicerce da fé; pautando, pois, as novas estradas que surgem para finalmente alcançar o fim do itinerário.

Permita-me hoje nos retermos até você e sua história discorrendo sobre este dom, esta virtude. Aliás, penso que seja interessante compreendermos que a virtude na sua origem semântica do latim “virtus”, significa a força, a capacidade. Quando tomamos estes significados e os levamos para o terreno da fé, a beleza da colheita é singular. Pois vale lembrar que o sucesso da colheita não depende tão somente do cultivo e da espera, mas também do terreno.

Quanto à fé, não são poucos os tratados teológicos e filosóficos que tentam penetrar em seu universo. Mas uma resposta que sempre acho cheia de beleza e propriedade é aquela que o Apóstolo Paulo nos recorda em sua carta aos Hebreus: “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, isto é, de está firme na esperança e conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11, 1). Para os gregos ter fé é crer, confiar, portanto, construir uma relação confiante. Por outro lado, a palavra hebraica para “crer” significa “está firme” com segurança e solidez. Neste sentido, no Profeta Isaías lemos: “Se não crerdes, não vos firmareis, não permanecereis” (Is 7, 9). Aqui então encontramos que a Carta aos Hebreus retomou o conceito judaico de fé e combinou com a noção grega. E isto é interessante porque o homem virtuoso na fé, traz em si portanto a força e capacidade de ver além. Está firme numa realidade que não vê, mas na qual crê. Ele olha a semente e encontra nela a condição de árvore que ela traz em si.

Uma noção semelhante de fé encontramos no Evangelho de João. Para ele ter fé é a maneira bem determinada de ver a realidade. Quem crê, vê atrás do véu, para além das coisas. Seu olhar penetra além das aparências. Levanta o véu que cobre tudo. A fé o remete para outra realidade, à riqueza interna da alma, que na sua essência alcança o que está em Deus. A construção da nossa vida quando tocada pelo dinamismo salvífico do Cristianismo, deve ter, portanto como viga de sustentação a virtude da fé. E em se tratando de um novo ano, este deve ser para nós um terreno no qual possamos semear e cultivar as sementes da FÉ, a fim de colhermos no tempo certo os frutos que nelas estão guardados. Eis, portanto, a nossa missão, eis a nossa Vocação!

Jerônimo Lauricio
Seminarista da Diocese de Itabuna - Ba.
Bacharelando do curso de Filosofia.
E-mail: jeronimolauricio@hotmail.com
Site: www.jeronimolauricio.com

Publicado no Portal A Catequese Católica

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O jovem em busca da verdade

“É próprio da condição humana e, particularmente, da juventude buscar o Absoluto, o sentido e a plenitude da existência. Amados jovens, não vos contenteis com nada menos do que os mais altos ideais! Não vos deixeis desanimar por aqueles que, desiludidos da vida, se tornaram surdos aos anseios mais profundos e autênticos do seu coração. Tendes razão para não vos resignardes com diversões insípidas, modas passageiras e projetos redutivos. Se mantiverdes com ardor os vossos anelos pelos Senhor, sabereis evitar a mediocridade e o conformismo, tão espalhados na nossa sociedade”. Isto foi dito pelo Papa João Paulo II aos jovens em preparação para a XVII Jornada Mundial da Juventude e, como podemos ver, são palavras fortes que convidam e, ao mesmo tempo, impelem à busca da verdade autêntica.

O anseio pela verdade é algo intrínseco ao ser humano. Desde sempre ele a procura de várias formas e em diversos lugares, mas nem sempre alcança aquela verdade plena que se há de manifestar na última revelação de Deus: “Agora, vemos em espelho e de modo confuso; mas então, será face a face. Agora, o meu conhecimento é limitado; então, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13,12).

No mundo atual, onde tantos homens e mulheres pensam e vivem como se Deus não existisse, torna-se difícil para o jovem encontrar com segurança o caminho da verdade; por isso deixa-se atrair facilmente por formas irracionais de filosofias que desvirtuam o sentido primeiro e último da vida: Deus. O grande mal que se abate sobre os jovens não é a droga, mas a falta de sentido da vida; sem este, o tempo que deveria ser recheado de descobertas fantásticas, torna-se um peso, onde nada é satisfatório e tudo é vazio...

Mas você, que é jovem, não pode desanimar diante dessa realidade; é preciso coragem para deixar que o Evangelho seja o condutor das suas opções e de toda a sua vida! “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável e o que é perfeito” (Rm 12,2).

“A filosofia moderna possui, sem dúvida, o grande mérito de ter concentrado a sua atenção sobre o homem. (...) Ela deu os seus frutos nos diversos âmbitos do conhecimento, favorecendo o progresso da cultura e da história. (...) A antropologia, a lógica, as ciências da natureza, a história, a lingüística, de algum modo todo o universo do saber foi abarcado. Todavia, os resultados positivos alcançados não devem levar a transcurar o fato de que essa mesma razão, porque ocupada a investigar de maneira unilateral o homem como objeto, parece ter-se esquecido de que este é sempre chamado a voltar-se também para uma realidade que o transcende. Foi assim que a razão, sob o peso de tanto saber, em vez de exprimir melhor a tensão para a verdade, curvou-se sobre si mesma, tornando-se incapaz, com o passar do tempo, de levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser” (Fé e Razão, 5).
Em toda a história da humanidade a filosofia foi dando respostas necessárias ao homem, mas ao desviar-se do centro, que é Deus, deixou de ser ponte e passou a ser um muro que somente com o auxílio da fé é possível transpor. Mas quando alguém se determina a encontrar a verdade faz, sem dúvida, a maravilhosa experiência da liberdade, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

O tema da XVII Jornada Mundial da Juventude – “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) – evoca o desejo de verdade e a sede de alcançar a plenitude do conhecimento que estão gravados no coração de todo homem. É necessário que o jovem tenha um encontro pessoal com Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6), com o Absoluto, para que seus critérios de avaliação e opções não sejam dominados pela técnica ou pelas paixões desordenadas.

Buscar a verdade é buscar a Cristo! E na vida do jovem esta busca perpassa a escolha da profissão, a descoberta do amor humano, o anseio de fazer algo grandioso, a luta para firmar as próprias convicções.

“Na realidade, é Jesus quem buscais quando sonhais com a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande, a vontade de seguir um ideal, a recusa de vos deixardes submergir pela mediocridade, a coragem de vos empenhardes, em humildade e perseverança, no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna” (João Paulo II).

Permita-se, portanto, ser atraído por aquilo que conduz à verdade; que não corrompe os sentidos. Muitas vezes a verdade vai atuar em nós como um remédio forte lançado sobre um ferimento grave: dói, mas cura! “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Não é alienação persistir na busca da verdade e deixar que sua vida seja conduzida por Cristo e para Ele; alienação é viver de forma contrária à própria essência, e sua essência é Deus: Amor e Verdade. Sem a verdade, não é possível encontrar a verdadeira felicidade!

Josefa Alves
Comunidade de Vida Shalom

Publicado no Portal da Comunidade Católica Shalom

domingo, 11 de janeiro de 2009

Jesus é Batizado para iniciar a vida pública

Padre Arlon Costa, Comunidade Canção Nova - Terra Santa, medita e reza com você celebrando o dia do Batismo de Jesus. Prepare sua Bíblia, busque a passagem de Mateus 3, 13-17 e acompanhe o vídeo:



Publicado no Blog Terra Santa

A atitude do bem


Ser humilde é a principal característica de quem entendeu o Amor

Estamos sempre à espera que o semelhante nos faça somente o bem. Em todos os lugares, em várias circunstâncias, ao depararmos com outras pessoas, esperamos uma boa recepção, a aprovação social, o melhor lugar, etc. Muitas vezes, até de familiares e amigos mais próximos, gestamos a expectativa de adquirir sua melhor acolhida, o que nem sempre acontece.

Há no ser humano uma inclinação em querer o melhor para si. E nos sentimos injustiçados ou inocentes quando isso não acontece. Esquecemos, por um momento, que também a outra pessoa deseja e pode estar disposta a lutar, se for preciso, por um lugar privilegiado. Também os apóstolos discutiam quem entre eles seria o maior.

Desculpamo-nos muitas vezes por não fazermos o bem, por não sermos correspondidos favoravelmente num contato, devolvendo ao indiferente ou aquele que nos agride uma atitude recíproca a que ele nos dispensou. Talvez o pecado original seja o principal responsável por tais atitudes em nós.

O lado humano e as primeiras impressões de justiça e amor-próprio gritam dentro de nós. Também a tentação de nos comparar, na situação, uns com os outros, justificaria a sensação de injustiça. "Porque ele pode e eu não?" Por mínima que seja a atitude de desaprovação, já imaginamos: "O que fiz para essa pessoa?" ou então: "Que falta de consideração!", ou ainda: "Nem me notou!" Pensamentos assim nos detêm na capacidade de responder diferente.

A consciência e a vontade de querer ir além das mazelas humanas devem ser maiores. O que levou o outro a querer o melhor só para si esquecendo-se da fadiga e do cansaço alheio? Com certeza se descobríssemos seus infortúnios vida afora, ainda que menores que os de outros, veríamos sua atitude de forma diferente, olharíamos com piedade e entenderíamos seus limites. Por incrível que pareça, se quisermos a consideração das pessoas, ou melhor, para revertermos qualquer situação difícil em algo favorável, devemos deixar exalar do nosso interior o bem que queremos receber dos outros.

O bem que aprendemos dos que nos amam incondicionalmente é o que muda e converte o coração dos que nos são indiferentes. Como alguém pode aprender a amar se não há quem o ensine e lhe dê exemplo? A resposta na mesma moeda não tem valor quando se trata da conquista de um coração!

Supere você as expectativas do outro. É Nosso Senhor Jesus Cristo que nos ensina a agir acima da simples sombra da justiça humana e a pensar segundo a misericórdia divina. "Até os pecadores prestam ajuda aos pecadores, para receberem o equivalente. Amai vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca" (Lc 6, 34-35).

Não ter uma imagem elevada de si mesmo e nunca contar com a total atenção e serviço de todos alimenta a humildade. Ser humilde é a principal característica de quem entendeu o Amor, e o Amor esvaziou-se de si e se entregou a cada um de nós. Sigamos o exemplo d'Ele para encontrar a felicidade eterna. Amar e ensinar a amar, essa é a nossa vocação! Deus o abençoe.

Sandro Ap. Arquejada - Missionário da Canção Nova
sandroarq@geracaophn.com

Publicado no Portal da Comunidade Católica Canção Nova

A fraqueza e a graça

A vivência do nosso Batismo e da vocação específica de cada um requer uma espiritualidade capaz de integrar todo o nosso ser. Requer uma sadia relação entre o passado e o presente. Para isso precisamos mesmo da obra de autoconhecimento a partir da graça e da amizade com Deus. Precisamos dessa entrada em si mesmo para conhecermos melhor nossa história e nos reconciliarmos bem com ela. Na verdade, a nossa descida à "mansão dos mortos" precisa ser com Cristo, para que nossas feridas e carências, mazelas e fraquezas não se tornem acusações ou autocondenação. Só Deus em nós pode nos fazer rezar como o Salmista: "Confesso, Senhor, que sou uma verdadeira maravilha porque sou obra prodigiosa de tuas mãos" (cf. Sl 139, 14).

A vida nova que brota do nosso encontro com Cristo, do nosso processo de maturação em Deus para melhor assumirmos a nossa história vai exatamente agindo na maneira como vivemos, como nos relacionamos e como lhe damos com os anseios e sentimentos. Há muita energia que precisa ser canalizada para o bem e essas disposições podem ser aproveitadas a partir das nossas limitações colocadas sob a luz da graça. Os sentimentos e limitações não podem ser nossos inimigos, mas temos que aprender a extrair desses inevitáveis estados interiores o que é bom, harmonizá-los e conduzi-los para que se tornem escadas e não tropeços nossos, muito menos para os outros.

Sentimentos como raiva, ciúmes, inveja, medo, rancor, baixa estima, desânimo, são, sem dúvidas, forças poderosas que podem - se não trabalhadas em nós para o bem - tornarem-se empecilhos para a vida e para a realização profissional, afetiva e vocacional, especialmente para os casados. É preciso fazer um caminho "ordo amoris", ou seja, entrar na história com a luz de Cristo e sua misericórdia, nos deixarmos com Cristo ver o amor de Deus em todas as circunstância e situações de nossas vidas, sermos reconciliados e curados, e permitirmos que nossa liberdade interior seja liberta de tantos fardos e condicionamentos colocados por nós mesmos e pelos outros. Impressionante como o que dizem de nós muitas vezes podem nos levar a viver como se estivéssemos no céu ou no inferno.

É importante que vivamos o processo de cura e reconciliação interior, não querendo partir de cima, de uma postura de sempre esperar de Deus sem fazermos nossa parte, mas partir das nossas próprias fraquezas. O que indispensavelmente se parte sempre de cima é do auxílio da graça, mas ela vem, não como mágica, mas como auxílio indispensável para que possamos ir para Deus e para os irmãos com tudo aquilo que somos e temos. Magistralmente tem-se que observar aqui a vida e a Doutrina de Santo Agostinho sobre a graça, que não anula, desfacela ou isenta a ação da nossa liberdade. No entanto, temos sempre necessidade dela. Não seremos felizes vivendo de "forma pelagiana", ou seja, como se tudo dependesse somente das nossas forças, mas compreendendo que não podemos nos redimir sozinhos. Talvez esse seja um risco de uma espiritualidade inicial quando não bem orientada. Talvez uma espiritualidade paralela - não em sentido de valor, mas de uma redenção com as próprias forças – encontramos na manipulação das faculdades da razão como a fonte de nossa redenção. Alguns autores famosos parecem ganhar muito dinheiro nos nossos dias com livros de auto-ajuda que ensinam e encantam com excelente sabedoria literária, mas que se equivocam, quando demonstram ser possível descobrir quase todos os segredos da vida Jesus, fazendo dele uma leitura somente psicológica.

Nem sempre o mistério da dor e do sofrimento, ou mesmo dos abismos da alma, dos traumas e infernos da nossa história são compreensíveis somente com uma leitura psicológica ou "uma formulação dialogal" com nossos sentimentos. Não podemos dizer que a receita vale para todos, os Evangelhos o demonstram isso. No entanto, sou de acordo que a espiritualidade precisa ser a mais próxima do homem e mais realista no processo de ajudá-lo no equilíbrio da vida e das relações. Aproveito para dizer que a espiritualidade mística dos santos e santas do Carmelo, não é de pouco valor. Os escritos de Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha, não são teorias ou vagas espiritualidades. Eles falaram como ninguém do mistério da dor e da fraqueza humana, como da misericórdia e da graça, a partir de suas próprias vidas, e tudo porque conheceram os segredos do coração de Cristo. Cristo lhes revelou o seu coração cheio de amor. Conheceram seus pecados, é verdade, mas conheceram absolutamente o que é capaz de fazer a graça na vida de uma pessoa que se abre a ela com fé.

A tendência hoje é sempre mais esconder falar do pecado e da graça, para se encontrar uma via mais fácil aos homens. Não são poucos os que acreditam que, no final das contas, todos nós seremos perdoados e ganharemos o céu, porque a misericórdia de Deus não "vai condenar ninguém", - como se fosse Deus quem nos condenasse - basta o sacrifício do Seu Filho. Não sei se isso vai acontecer, pois como católicos não somos chamados a crer e a viver nessa vã expectativa. O que precisamos é viver na esperança, na fé em Cristo e na força do amor. Amor esse que não é inconseqüente, sem compromisso, sem renúncia. Os amores do mundo não recebem todos, o nome de "amor de Deus". "É bem verdade que o amor apaixonado de Deus por seu povo – pelo homem – é ao mesmo tempo um amor que perdoa" (cf. Bento XVI, Deus é amor, 10). No entanto, o amor é um processo de passagem de níveis: sair de um amor escravo e retribucionista para um amor de filho. O amor nunca está concluído, mas passa sempre para níveis mais elevados de compromisso e doação (cf. Jo 13,1).

Concluo na esperança de que a graça opere em nós a sua maravilhosa obra de salvação, não sem nossa colaboração, é claro. Alegra-me muito o fato de que todos nós precisamos ser redimidos. E essa redenção jamais excluirá o altíssimo dom da nossa liberdade. Para uma espiritualidade verdadeira não se pode nunca esquecer que precisa ser ela também redimida pela graça, em cada nova aventura no coração e nos abismos da miséria humana. "Só Cristo revela ao homem quem ele mesmo é". (GS, 22). Acredito que para uma espiritualidade verdadeira esta frase conclusiva fala muito: "Do fundo de nossas impotências experimentamos o poder da graça de Deus, o amor de Deus, que só conseguimos realmente entender quando chegamos ao fim, quando houvermos desistido de querer nos tornar melhores por nossas forças. A graça de Deus se completa em nossa fraqueza (II Cor 12, 9)" (Grun e Dufner, Vozes, 2004) . Não tenhais medo! Levantai-vos! Vamos! Assim seja.

Antonio Marcos
Consagrado na Comunidade de Vida Shalom

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Arsenal de infantilidades


Trazemos um excesso de sentimentos infantis

'...enquanto o herdeiro é menor, em nada difere do escravo, ainda que seja senhor de tudo, mas está sob tutores e administradores, até o tempo determinado por seu pai. Assim também nós, quando menores, estávamos escravizados pelos rudimentos do mundo. Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção. A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! Portanto já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus' (Gálatas 4; 1-7).

Essa palavra é muito concreta e humana, inicialmente podemos achar um absurdo assemelhar uma criança ao escravo. É simples porque uma criança não é capaz de fazer a separação das coisas. A criança é egoísta e o egoísta é aquele que se ocupa do seu mundo, para ele o outro é uma extensão da sua necessidade. As crianças são escravas de suas necessidades.

A maturidade de uma criança acontece à medida que ela vai crescendo. Uma criança é escrava porque ela não sabe a razão da regra, mas se submete a ela. Quando ela cresce e obedece a regra porque a compreende, ela deixa de ser escrava. Quantos jogos construtivos, que educam a criança para compreensão de regra, são jogos simples de encaixe, entre outros, não videogames nos quais, muitas vezes, a regra é matar.

O desconhecido nos escraviza. Tudo aquilo que você desconhece se torna soberano sobre você e muitas vezes você teme uma pessoa desconhecida, e aí está a infantilidade. Nós também trazemos as infantilidades nos nossos afetos, insistimos em trazer em nós um arsenal de sentimentos infantis, egoístas, só pensamos em nós e em nossas necessidades. A birra é o excesso da criança, excesso da infantilidade, pois nela a criança se sente fracassada por não conseguir seu objetivo. Quando somos afetivamente infantis, nos transformamos em verdadeiros monstros. Se você não disciplina uma criança, o seu destino não será diferente. Ensine-a a lidar com as impossibilidades.

Quantos adultos não têm coragem de dar opinião, não se manifestam, porque são infantis, são escravos de seus medos, isso é mesma coisa de birra, pos não sabem lidar com os limites.

Abandonemos as nossas birras que se manifestam na nossa cara feia, nas nossas respostas ríspidas, entre outras... Só não nos jogamos no chão porque não temos coragem.

Quantos adultos com medo de quarto escuro. Eu pergunto: Qual o mal de um quarto escuro? Mas quantas vezes fomos trancados nos quartos e disseram que lá dentro tinha um monstro? Uma criança não tem inteligência suficiente para saber que ali não há um bicho, porque a referência que ela tem é o adulto.

Como você pode curar seu medo de quarto escuro? Traga à sua razão o que o faz sentir medo. Entre no quarto escuro e diga: ‘Este quarto não pode me fazer mal’. Você hoje é adulto, maduro, olhe para as fases da sua vida que precisam ser curadas, olhe para você criança, você adolescente. Permita que Deus resgate a sua alma ferida. Muitas vezes é preciso voltar no tempo e se reconciliar com você mesmo.

Nenhum perdão será concreto se antes você não se perdoar; nenhum olhar será profundo se você não se olhar.

O que pode nos destruir na vida não é o que os outros fazem para nós, mas o que permitimos que outros façam de nós. O maior consolo que você precisa não é o dos outros, é de você mesmo. Não adianta o outro deixar você livre, se você se sentir escravo.

Deus é especialista em curar corações machucados. Pare de lamentar o que você não teve. Seja como o rio, que quando alguém coloca alguma barreira nele, ele não deixa de crescer, mas fica mais profundo.

Deus ainda prefere os miseráveis. Deus olha para você, e no momento da sua birra, Ele se encontra com você.

Padre Fábio de Melo

Publicado no Portal da Comunidade Católica Canção Nova

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O fim do ciúme


Como desenvolver os laços de confiança

Um relacionamento não se constrói apenas com momentos de carinho, beijos e abraços, mas também de esforço e ajuda mútua para resolvermos os pequenos impasses pertinentes ao convívio. Quando nos dispomos a viver com outra pessoa uma experiência de vida comum, a dinâmica do convívio nos permite influenciar e ser influenciados em nossos comportamentos. Por não sermos perfeitos, certamente, muitos ajustes precisarão acontecer dentro da vida a dois. Entre algumas dessas necessidades está a ajuda para o controle do ciúme.

Há algum tempo, escrevi sobre o ciúme como o veneno dos relacionamentos. Continuando a partir dessa reflexão, podemos, também considerá-lo como um bolo de sentimentos, o qual, quase sempre, esconde situações que nos conduzem à atitude de medo, insegurança e, muitas vezes, de pavor ao nos imaginar sendo passados para trás por alguém. Com isso, reproduzimos, dentro do relacionamento, atitudes características de nossa baixa autoestima ou das más experiências vividas nos relacionamentos anteriores.

Percebemos que o ciúme é, de fato, algo que acontece. Entretanto, se não houver o esforço para a mudança, ele poderá se tornar ameaçador para os casais. O ciúme, quase sempre, tem origem no resultado daquilo que conjecturamos ao presenciar uma situação, que, em razão de nossas inseguranças, nos faz nos sentir ameaçados e, por conseguinte, passamos a desconfiar de tudo e de todos. Algumas vezes, uma atitude que poderia parecer inocente para alguém, pode não ser tão inocente para aquela pessoa que vive às voltas com suas inseguranças e ciúmes. Isso não faz bem para quem sente e, tampouco, para quem está ao seu lado; pois, como resultado disso, tem-se um convívio bastante tumultuado e com discussões constantes.

Antes que prejudiquemos, com atos tempestivos, o relacionamento tão almejado, precisamos nos abrir também para a ajuda. Além do auxílio de profissionais, quando for o caso, a pessoa mais indicada para cooperar nesse processo de cura é aquela que está ao nosso lado. Esta, por sua vez, ao perceber que o ciúme está corroendo seu cônjuge, precisa ajudá-lo naquilo que o faz vulnerável. Talvez, ser mais atento quanto às brincadeiras ou aos tipos de conversas que podem já não ser tão convenientes com os amigos em razão dos compromissos assumidos, ainda mais quando se conhece os efeitos que essas atitudes podem causar na pessoa que amamos. Corrigir ou mudar tais atos é uma atitude de zelo e de atenção às novas necessidades do convívio, como também resposta ao pedido de socorro de quem sofre tais crises.

Precisamos nos sentir livres em nossos relacionamentos e não será exercendo o domínio de posse ou colocando a pessoa amada numa redoma que estaremos expulsando o ciúme ou garantindo a fidelidade que desejamos. O desenvolvimento dos laços de confiança entre os casais traz o amadurecimento para o convívio e tende a neutralizar as forças do ciúme. Vencer essas primeiras dificuldades é um ato de paciência e demonstra o zelo e o cuidado com quem amamos. As inseguranças se dissipam quando o casal aprende a reafirmar, a cada dia, seus propósitos com o outro, independentemente das crises que, normalmente, surgem ao longo da convivência.

Um abraço. Sejamos pacientes um com o outro.

Dado Moura
dado@dadomoura.com



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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A crise esta aí; Deus também está


Deus é maior do que todas as crises mundiais e financeiras

Hoje, Deus quer falar sobre a necessidade de você ser um homem e uma mulher incendiados no fogo do Espírito Santo. Ouvimos em todas as mídias seculares (Rádio, TV e Internet) que 2009 será um ano de crise, um ano difícil. As projeções são de crise financeira, que vai desencadear crises familiares, pois, sem dinheiro para comprar as coisas necessárias para a casa, marido e mulher entram em pé de guerra.

Humanamente falando, ficamos preocupados com o futuro do mundo e das nossas vidas. Mas nós cristãos não podemos nos deixar levar por essa onda de incertezas e de medo. Eu digo para você, em nome de Jesus, que 2009 será uma bênção para aqueles que confiam no Senhor!

Precisamos nos colocar na fé. Se todo mundo disser que o ano será difícil, você diz o contrário. Mergulhe na bênção. Temos de confiar que 2009 não será um inferno econômico, mas uma bênção para os filhos de Deus.

Na Bíblia, existem cerca de 30 mil promessas de Deus, promessas de prosperidade, felicidade e alegria. Nenhuma crise vai tirar de nós essas promessas do Senhor. No entanto, elas só são cumpridas no coração daqueles que crêem. Agarre-as!

O Espírito Santo precisa estar com você o tempo todo, porque é Ele quem vai manter reavivada a sua fé. Ou você crê ou você não crê. Tome posse dessa verdade: 2009 será um ano de graça. Não caia na incredulidade.

Você precisa ser realista; não alienado. Precisamos crer no invisível, não no visível. Deus é maior do que todas as crises mundiais e financeiras. Deus não vai abandonar você. Precisamos nos organizar para receber a bênção.

No Evangelho de São Mateus 15, 29-39, encontramos:

“Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali. Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou, de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel. Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: Tenho piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. Disseram-lhe os discípulos: De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão? Pergunta-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Sete, e alguns peixinhos, responderam eles. Mandou, então, a multidão assentar-se no chão, tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão. Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos. Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças. Jesus então despediu o povo, subiu para a barca e retornou à região de Magadã”.

Essa passagem fala sobre a segunda multiplicação dos pães. Quanto mais a crise apertar, mais Jesus vai se manifestar. Ele quer realizar prodígios, milagres e sinais. Não tenha medo, Ele vai cuidar de você. Ele proverá o necessário para você e sua família. "Deus provê, Deus proverá, sua misericórdia não faltará".

É preciso organizar-se para que a bênção chegue até você. Semeie fé e colha fé em 2009. Não podemos ficar dispersos como as outras pessoas, não podemos nos desesperar com essa crise financeira mundial. Não faltará nada para você e, se faltar, peça a Deus a graça da fé para enxergar o motivo dessa falta. Às vezes, ela pode ser para o nosso amadurecimento no amor do Senhor e na esperança.

Humanamente falando, passaremos por um "vale escuro", então, precisamos andar com os olhos da nossa fé. Precisamos mostrar para o mundo que confiamos em Deus, por isso, não tememos nada. Não se desespere, o Senhor está criando novos céus e nova terra. Mesmo que você esteja no "vale escuro", agarre as promessas de Deus para você.

O seu Ano Novo será diferente se você deixar o Senhor ser o centro da sua casa.

Flavinho - Com. Canção Nova

Publicado no portal da Comunidade Católica Canção Nova

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Maria, Mãe de Deus


Theotokos - título criado pelos cristãos

A contemplação do mistério do nascimento do Salvador tem levado o povo cristão não só a dirigir-se à Virgem Santa como à Mãe de Jesus, mas também a reconhecê-la como Mãe de Deus. Essa verdade foi aprofundada e compreendida como pertencente ao patrimônio da fé da Igreja, já desde os primeiros séculos da era cristã, até ser solenemente proclamada pelo Concílio de Éfeso no ano 431.

Na primeira comunidade cristã, enquanto cresce entre os discípulos a consciência de que Jesus é o filho de Deus, resulta bem mais claro que Maria é a Theotokos, a Mãe de Deus. Trata-se de um título que não aparece explicitamente nos textos evangélicos, embora eles recordem “a Mãe de Jesus” e afirmem que ele é Deus (Jô. 20,28; cf. 05,18; 10,30.33). Em todo o caso, Maria é apresentada como Mãe do Emanuel, que significa Deus conosco (cf. mt. 01,22-23).

Já no século III, como se deduz de um antigo testemunho escrito, os cristãos do Egito dirigiam-se a Maria com esta oração: “Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita” (Da Liturgia das Horas). Neste antigo testemunho a expressão Theotokos, “Mãe de Deus”, aparece pela primeira vez de forma explícita.

Na mitologia pagã, acontecia com freqüência que alguma deusa fosse apresentada como Mãe de um deus. Zeus, por exemplo, deus supremo, tinha por Mãe a deusa Reia. Esse contexto facilitou talvez, entre os cristãos, o uso do título “Theotokos”, “Mãe de Deus”, para a Mãe de Jesus. Contudo, é preciso notar que este título não existia, mas foi criado pelos cristãos, para exprimir uma fé que não tinha nada a ver com a mitologia pagã, a fé na concepção virginal, no seio de Maria, d’Aquele que desde sempre era o Verbo Eterno de Deus.

No século IV, o termo Theotokos é já de uso freqüente no Oriente e no Ocidente. A piedade e a teologia fazem referência, de modo cada vez mais freqüente, a esse termo, já entrado no patrimônio de fé da Igreja.

Compreende-se, por isso, o grande movimento de protesto, que se manifestou no século V, quando Nestório pôs em dúvida a legitimidade do título “Mãe de Deus”. Ele de fato, propenso a considerar Maria somente como Mãe do homem Jesus, afirmava que só era doutrinalmente correta a expressão “Mãe de Cristo”. Nestório era induzido a este erro pela sua dificuldade de admitir a unidade da pessoa de Cristo, e pela interpretação errônea da distinção entre as duas naturezas – divina e humana – presentes n’Ele.

O Concílio de Éfeso, no ano 431, condenou as suas teses e, afirmando a subsistência da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Filho, proclamou Maria Mãe de Deus.

As dificuldades e as objeções apresentadas por Nestório oferecem-nos agora a ocasião para algumas reflexões úteis, a fim de compreendermos e interpretarmos de modo correto esse título.

A expressão Theotokos, que literalmente significa “aquela que gerou Deus”, à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é-Lhe consubstancial. Nesta geração eterna Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à luz Maria.

Proclamando Maria “Mãe de Deus”, a Igreja quer, portanto, afirmar que Ela é a “Mãe do Verbo encarnado, que é Deus”. Por isso, a sua maternidade não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana.

A maternidade é relação entre pessoa e pessoa: uma mãe não é Mãe apenas do corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera. Maria, portanto, tendo gerado segundo a natureza humana a pessoa de Jesus, que é a pessoa divina, é Mãe de Deus.

Ao proclamar Maria “Mãe de Deus”, a Igreja professa com uma única expressão a sua fé acerca do Filho e da Mãe. Esta união emerge já no Concílio de Éfeso; com a definição da maternidade divina de Maria, os Padres queriam evidenciar a sua fé a divindade de Cristo. Não obstante as objeções, antigas e recentes, acerca da oportunidade de atribuir este título a Maria, os cristãos de todos os tempos, interpretando corretamente o significado dessa maternidade, tornaram-no uma expressão privilegiada da sua fé na divindade de Cristo e do seu amor para com a Virgem.

Na Theotokos a Igreja, por um lado reconhece a garantia da realidade da Encarnação, porque – como afirma Santo Agostinho – “se a Mãe fosse fictícia seria fictícia também a carne... fictícia seriam as cicatrizes da ressurreição” (Tract. In Ev. loannis, 8,6-7). E, por outro, ela contempla com admiração e celebra com veneração a imensa grandeza conferida a Maria por Aquele que quis ser seu filho. A expressão “Mãe de Deus” remete ao Verbo de Deus que, na Encarnação, assumiu a humildade da condição humana, para elevar o homem à filiação divina. Mas esse título, à luz da dignidade sublime conferida à Virgem de Nazaré, proclama, também, a nobreza da mulher e sua altíssima vocação. Com efeito, Deus trata Maria como pessoa livre e responsável, e não realiza a Encarnação de seu Filho senão depois de ter obtido o seu consentimento.

Seguindo o exemplo dos antigos cristãos do Egito, os fiéis entregam-se Àquela que, sendo Mãe de Deus, pôde obter do divino Filho as graças da libertação dos perigos e da salvação eterna.

Extraído do livro A virgem Maria
João Paulo II

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Maria, Mãe de Deus


Hoje, oito dias depois da Natividade, primeiro dia do ano novo, o calendário dos santos se abre com a festa de Maria Santíssima, no mistério de sua maternidade divina. Escolha acertada, porque de fato Ela é "a Virgem mãe, Filha de seu Filho, humilde e mais sublime que toda criatura, objeto fixado por um eterno desígnio de amor" (Dante). Ela tem o direito de chamá-lo "Filho", e Ele, Deus onipotente, chama-a, com toda verdade, Mãe!

Foi a primeira festa mariana que apareceu na Igreja ocidental. Substituiu o costume pagão das dádivas (strenae) e começou a ser celebrada em Roma, no século IV. Desde 1931 era no dia 11 de outubro, mas com a última revisão do calendário religioso passou à data atual, a mesma onde antes se comemorava a circuncisão de Jesus, oito dias após ter nascido.

Num certo sentido, todo o ano litúrgico segue as pegadas desta maternidade,começando pela solenidade da Anunciação, a 25 de Março, nove meses antes da Natividade. Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Como todas as mães, trouxe no próprio seio aquele que só ela sabia que se tratava do Filho unigênito de Deus, que nasceu na noite de Belém.

Ela assumiu para si a missão confiada por Deus. Sabendo, por conhecer as profecias, que teria também seu próprio calvário, enquanto mãe daquele que seria sacrificado em nome da salvação da Humanidade. Deus se fez carne por meio de Maria. Ela é o ponto de união entre o céu e a Terra. Contribuiu para a obtenção da plenitude dos tempos. Sem Maria, o Evangelho seria apenas ideologia, somente "racionalismo espiritualista", como registram alguns autores.

O próprio Jesus através do apóstolo São Lucas (6,43) nos esclarece: "Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto". Portanto, pelo fruto se conhece a árvore. Santa Isabel, quando recebeu a visita de Maria já coberta pelo Espírito Santo, exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre." (Lc1,42). O Fruto do ventre de Maria é o Filho de Deus Altíssimo, Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor. Quem aceita Jesus, fruto de Maria, aceita a árvore que é Maria. Maria é de Jesus e Jesus é de Maria. Ou se aceita Jesus e Maria ou se rejeita a ambos.

Por tomar esta verdade como dogma é que a Igreja reverencia, no primeiro dia do ano, a Mãe de Jesus. Que a contemplação deste mistério exerça em nós a confiança inabalável na Misericórdia de Deus, para nos levar ao caminho reto, com a certeza de seu auxílio, para abandonarmos os apegos e vaidades do mundo, e assimilarmos a vida de Jesus Cristo, que nos conduz à Vida Eterna. Assim, com esses objetivos entreguemos o novo ano à proteção de Maria Santíssima que, quando se tornou Mãe de Deus, fez-se também nossa Mãe, incumbiu-se de formar em nós a imagem de seu Divino Filho, desde que não oponhamos de nossa parte obstáculos à sua ação maternal.

A comemoração de Maria, neste dia, soma-se ao Dia Universal da Paz. Ninguém mais poderia encarnar os ideais de paz, amor e solidariedade do que ela, que foi o terreno onde Deus fecundou seu amor pelos filhos e de cujo ventre nasceu aquele que personificou a união ente os homens e o amor ao próximo, o Cristo. Celebrar Maria é celebrar O nosso Salvador. Dia da Paz, dia da Mãe Santíssima. Nos tempos sofridos e sangrentos em que vivemos, um dia de reflexão e esperança.

Publicado no Portal da Comunidade Católica Shalom

Ufa, que ano!


A macro-história acontece em câmara lenta. De repente, os eventos pegam embalo e os fatos se multiplicam vertiginosamente. 2008 acelerou tanto que mal deu tempo de tomar fôlego. Tirando as catástrofes naturais e os eventos previamente programados, como as Olimpíadas, a mídia cativou, mês a mês, a nossa atenção com notícias bombásticas. Tudo parecia ter potencial de alterar o futuro de forma dramática.

Os tibetanos, aproveitando o clima de euforia com a tocha olímpica, conseguiram expor para o mundo a opressão do regime chinês. Ingrid Betancourt, libertada de um cativeiro numa operação militar ainda não totalmente explicada, mostrou ao mundo o intrincado jogo geopolítico da América Latina -- França, Estado Unidos e Colômbia participaram, de alguma forma, no resgate.

Eventos impressionantes começaram a se suceder numa cascata surpreendente lá pelo meio do ano. Barack Obama reuniu mais de duzentas mil pessoas em Berlim em um comício -- para quê, se os alemães não votam em presidentes americanos? Ainda no início do primeiro semestre, duas instituições financeiras gigantes pediram falência. A bolha especulativa das hipotecas, do crédito fácil e das bolsas pipocou. Veio a avalancha. Trilhões de dólares viraram fumaça. E o mundo, estarrecido, passou a contemplar a possibilidade de uma depressão, tão severa quanto a de 1929.

O cenário africano continuou funesto. Não bastasse o sofrimento dos exilados de Darfur, veio o Congo. Os remanescentes do holocausto de Ruanda continuaram a aterrorizar com os seus ódios étnicos. Resultado: milhões de inocentes fugiram para escapar da carnificina, mas, sem terem para onde ir, morreram de fome. O cenário ganhou proporções apocalípticas e a resposta mundial foi pífia.

Barack Obama venceu as eleições e o mundo celebrou. Bush se despede como um dos presidentes menos populares da história dos Estados Unidos. A vitória do primeiro afrodescendente ao posto de “homem mais poderoso do mundo” encantou muçulmanos, cristãos, quenianos e, principalmente, os herdeiros do legado de Martin Luther King. Impossível não se arrepiar com o delírio das multidões no momento em que Obama foi declarado vencedor.

Em 2008, meninos e meninas também viraram notícia pelos maus-tratos que sofreram. Alguém jogou Isabela por uma janela. Igor e João Victor, mortos pelo pai e pela madrasta, nos entristeceram. A polícia soltou crianças que estavam algemadas e amarradas pelos pés. A nação ainda não despertou para a crua realidade de que o Brasil cuida mal dos pequeninos.

E agora, o que virá pela frente? Sabemos que, em alguns aspectos, o mundo nunca mais será o mesmo. O racismo dos Estados Unidos, com certeza, perderá sua força. O cartel do tráfico colombiano tende a enfraquecer. O projeto econômico neoliberal vai terá de ser revisto; a aposta de que o mercado ajusta o próprio mercado mostrou-se perigosa.

O Estado, com os seus mecanismos, precisará intervir para não deixar que uma economia atole o resto do mundo em crises, gerando mais pobreza. Depois que bancos centenários faliram e a General Motors revelou certa “falta de liquidez”, o resto do planeta colocou as barbas de molho; qualquer um pode descer pelo ralo.

As preocupações mundiais continuarão contraditórias. O Haiti, assolado por furacões, continuará se debatendo na miséria a poucos quilômetros do país mais rico do planeta. Como a Unesco tem poucos recursos para salvar vidas inocentes e sobra dinheiro para acudir as instituições bancárias? Infelizmente, enquanto os estoques de petróleo continuarem abundantes, suprindo a demanda mundial, não haverá interesse em desenvolver tecnologia que diminua a emissão de gás carbono.

A história do violinista Ytzahak Perlman é comovente e serve de inspiração nestes tempos delicados. Perlman contraiu pólio aos 4 anos de idade e desde então caminha com muletas. Apesar desse impedimento, tornou-se um grande violinista, um “virtuose”. Diz-se que, certa vez, no palco, sentou-se, colocou as muletas ao lado e posicionou o violino sob o queixo para começar a afiná-lo. De repente, com um ruído estridente, uma das cordas se rompeu. Quando todos esperavam que ele pedisse outra corda, ele fez um sinal ao maestro para começar e executou todo o concerto com apenas três cordas. No final, todos o ovacionaram em pé. Quando lhe deram a palavra, disse: “Nossa tarefa é fazer música com o que resta”. Claro, todos entenderam que as suas palavras se referiam à vida, e não a cordas arrebentadas apenas.

E na sua vida, como foi 2008? Quais foram os acontecimentos marcantes que aconteceram ao longo desse ano? Quais foram as intervenções de Deus na sua vida? Você termina esse ano mais Santo, mais apaixonado por Deus, pelo seu reino e pela Obra?

Como Comunidade também vivemos momentos, fatos marcantes ao logo do ano que está terminando. Quem não lembra do que Deus fez na missão de Fortaleza na campanha; “ Reparai as brechas.”? A participação do nosso fundador no Sínodo da Palavra. A inauguração da Diakonia. A primeira assembléia geral depois da aprovação dos nossos novos Estatutos. A aquisição da Rádio Dragão do mar, agora Shalom AM 620. Milhares de pessoas indo ao Halleluya pela primeira vez, um publico estimado em 600 mil pessoas. A primeira consagração e renovação dos votos no Celibato pelo reino da C.V e C.A.

Realmente, Deus fez maravilhas em nós e através de nós. Nosso coração termina mais um ano grato, cheio de louvor e gratidão ao Senhor que tudo fez para santificar o seu povo escolhido. Que ao lembrarmos de 2008, possamos agradecer aquele que sempre esteve conosco. Aquele que inúmeras vezes nos livrou das mãos do inimigo, da nossa vontade ainda não ordenada para o amor.

Em 2009, a história continuará ambígua. Dores se misturarão à felicidade. Experimentaremos perplexidade e esperança, luto e festa, descaso e solidariedade, insultos e marchas pela paz; rindo ou chorando, precisaremos aprender a viver como Ministros e Discípulos da Paz.

Um Santo e abençoado 2009.

Shalom.


por Vanilton Lima - Missionário da Com. Shalom, Sec. de Planejamento e Gestão
Comunidade Católica Shalom

Mensagem de Ano Novo aos jovens


Que sejam superadas as injustiças e as incompreensões
Estou enviando a todos vocês, jovens, um pequeno texto da mensagem do Papa para o dia 1 de janeiro 2009, dia mundial da paz. Uno-me a cada um e a cada uma de vocês neste caminho de um ano novo de paz e de justiça.

“A Igreja, que é “sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”, continuará a dar a sua contribuição para que sejam superadas as injustiças e as incompreensões e se chegue a construir um mundo mais pacífico e solidário.

A luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano, abandonar a mentalidade que considera os pobres – pessoas e povos – como um fardo e como importunos maçadores, que pretendem consumir tudo o que os outros produziram.

“Os pobres pedem o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho, criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos”. (João Paulo II). Só a insensatez pode induzir a construir um palácio dourado, tendo, porém, ao seu redor o deserto e o degrado. Por si só, a globalização não consegue construir a paz; antes, em muitos casos, cria divisões e conflitos. A mesma põe a descoberto, sobretudo, uma urgência: a de ser orientada para um objetivo de profunda solidariedade que aponte para o bem de cada um e de todos.

“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13) Fiel a este convite do seu Senhor, a Comunidade Cristã não deixará, pois, de assegurar o seu apoio à família humana inteira nos seus impulsos de solidariedade criativa, mas, sobretudo, a alterar “os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” A cada discípulo de Cristo, bem como a toda a pessoa de boa vontade, dirijo, no início de um novo ano, um caloroso convite a alargar o coração às necessidades dos pobres e a fazer tudo o que lhes for concretamente possível para ir sem seu socorro.

De fato, aparece como indiscutivelmente verdadeiro o axioma “combater a pobreza é construir a paz”. FELIZ 2009, combatendo a pobreza e construindo a paz.

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá - PR

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova