"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Os sofrimentos do Senhor Jesus

Estamos às vésperas da Semana Santa quando meditaremos mais profundamente sobre a paixão e morte de Cristo, o seu sofrimento, o mistério da redenção que nos restaurou a vida que perdêramos pelo pecado.

Temos um legado cultural que muito nos ajuda na contemplação dos sofrimentos do Senhor. Multiplicam-se pelo País, sobretudo em nossa Minas Gerais, os atos piedosos que lembram e vivenciam em penitencias coletivas, diversas etapas da Paixão de Cristo.

As vias sacras, as procissões do Encontro, do Senhor Morto, da Senhora das Dores, as melodias e sermões que as acompanham e o brilho das solenidades litúrgicas não são apenas encenações, mas uma memória viva em que entrechoca-se a conduta do pecador e as dores do Homem Jesus e as agruras do coração materno de Maria.

Pena que, sobretudo pela mídia, se apresentem apenas como herança cultural sem o aprofundamento da fé que os inspiraram e ainda inspiram na sua participação piedosa muitos do nosso povo, sobretudo as pessoas simples. A civilização materializada de hoje transforma esses dias penitenciais e de silêncio em mais uma ocasião de lazer desvinculada da fé.

São Paulo, escrevendo à Comunidade de Filipos, fala da suprema humilhação de Cristo, que aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, obediente até a morte de cruz (Cf. Fil.2,5-8).

Foi reconhecido e tratado como homem e último dos homens e julgado como herético pelos judeus, porque se fizera Filho de Deus e como criminoso pelos Romanos que, por Pilatos, entenderam que se opunha a César. Deram-lhe a morte infamante na cruz, ao lado de dois ladrões.

Realizava-se o que o Livro da Sabedoria já predissera do Ministério da Iniqüidade contra o Justo: “Condenemo-lo a morte infame, porque, como disse, Deus cuidara dele” e “Pois se o Justo é Filho de Deus. Ele o assistirá e libertará das mãos de seu adversários” (Cf. Sab. 2, 20 e 18)

Naquele momento, comoveu-se a terra, que tremeu, os céus se fecharam nas trevas e na escuridão. O próprio Pai Celeste o abandonara, pois carregava em si o pecado de toda a humanidade. Estava só, pendurado num madeiro, oferente e vítima, fazendo uma ponte entre o céu e a terra. “Meu Deus, meus Deus, por que me abandonastes? (Cf. Mc. 15,34)

Vindo para iluminar as trevas em que o mundo estava imerso foi rejeitado pelo seu povo. Ele curou suas feridas, fez os surdos ouvirem e os cegos enxergarem. Ao ressuscitar Lázaro, as Forças do Mal não mais o suportaram. Era a “gota d’água” de todo um processo de perseguição. Ele que era o Senhor da Vida, tinha de morrer. Caifáz sentencia: “Não compreendeis que vos convém que um só homem morra pelo povo em vez de perecer toda a nação? “ (Cf. Jo. 11, 50) Mas, segundo narra São João, como sumo sacerdote que era, profetizara e, continua o Evangelista, e não só pela nação, mas ofereceria sua vida para reunir na unidade todos os filhos de Deus que andavam dispersos.

O profeta Isaías, faz-nos ver a figura do Servo de Javé, o mais belo dos filhos, totalmente desfigurado: “ Como muitos ficaram pasmados à sua vista, por demais desfigurado para ser de homem o seu aspecto, e sua forma já não era a dos filhos de Adão”. (Cf. Is. 52,14). Pilatos, querendo livrá-lo das mãos dos judeus, entregou-à à soldadesca para o flagelar e coroar de espinhos, para zombar dele. “Ecce homo”.

Já antes, no Horto, Jesus sentira-se carregado de todos os crimes da Humanidade. Suara sangue. Pediu ao Pai que o livrasse daquela hora. Abandonado pelos amigos. Traído por Judas. Orou`: “Pai,afasta de mim este cálice. Mas não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Cf. Lc.22,42).

Carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Cavário onde foi crucificado.

Não podemos compreender este mistério do amor de Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou à morte por nós.

A meditação do passos da Paixão de Cristo é uma constante na vida da Igreja e deve ser também na nossa vida e conduzir-nos a amorosa adoração deste amor que tanto nos amou e que ser amado por nós. Que na simplicidade do nosso coração, possamos rezar como São Francisco: “Que eu morra Senhor por amor do vosso amor, Vós que vos dignastes morrer por amor do meu amor.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.

Publicado no Portal A Catequese Católica

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