As leituras bíblicas deste 6º domingo de Páscoa apresentam textos fundamentais para avaliar a revolução que Jesus trouxe no mundo.
O texto do evangelho de João 15, 9-17 é o mais importante. Um momento de intimidade de Jesus com os apóstolos na última ceia. São João, um dos doze, estava presente, foi testemunha, e recorda as verdades revolucionárias ouvidas de Jesus.
Jesus confia-lhes que é amado pelo Pai com amor infinito. E lhes assegura: também ele ama seus apóstolos, os doze que escolheu, com o mesmo amor com que é amado pelo Pai. Não somente, mas o amor de Jesus vai até o dom da vida: “Ninguém tem amor maior do que dar sua vida pelos amigos”.
O amor é exigente, sobretudo o de Deus, e Jesus faz aos apóstolos um pedido empenhativo: “Permanecei no meu amor”. Pede-lhes a fidelidade. Permanecer no amor de Cristo significa, antes de tudo, reconhecer todos as criaturas humanas como irmãos em Cristo: “Este é o meu mandamento que vos ameis uns aos outros”. Na vida quotidiana produzir frutos de bem: “Eu vos constitui para produzir fruto, e o vosso fruto permaneça”.
É novo estilo de vida do cristão de relacionar-se com o próximo. E tem efeito imprevisto: a alegria! “Isto vos disse para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa glória seja plena”. Alegria podemos dizer festiva própria do domingo de Páscoa. Um escritor do século II, na carta a Diogneto, assim descreve os cristãos no mundo: “O cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pela pátria nem pela língua nem por um gênero de vida especial. De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e a sua vida nada tem de extraordinário. A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apóia em qualquer teoria simplesmente humana, como tantas outras.
Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as circunstâncias de cada um; seguem o costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas o seu modo de viver é admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio. Habitam em suas pátrias, como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira. Casam-se como toda gente e criam seus filhos, mas não rejeitam os recém-nascidos. Têm em comum a mesa, não o leito.
São de carne, porém não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidade é no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. São condenados sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância. São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória; transparece o testemunho de sua justiça. Praticam o bem e são castigados como malfeitores; ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida.”
Esse modo festivo de viver a amizade com Deus o compreendeu bem o escritor moderno Chesterton, um convertido, que escreveu: “A alegria é o gigantesco segredo do cristão”. Se somos sempre tristes, cheios de bronca, brutalhões, podemos suspeitar que talvez não sejamos verdadeiros cristãos.
São João refletiu durante toda a sua vida sobre estas verdades. Na sua primeira carta 4,7-10, nos propõe a mais profunda de suas intuições. Ele chega a dar de Deus uma nova definição, plenamente em harmonia com o que Jesus havia revelado: “Deus é amor”. Definição simples, mas de extrema profundidade.
Os filósofos antigos imaginavam Deus um ente perfeito, abstrato, todo razão, causa eficiente do mundo, origem de todas as coisas. Também os estudiosos de hoje, se crêem, olham as galáxias e as moléculas e são levados a pensar em Deus como um engenheiro, um arquiteto. Mas Deus-Pai é revelação de Cristo. Deus-amor é a intuição de João, o discípulo que Jesus amava.
No centro de tudo está Deus, Pai que nos ama e espera de nós resposta de amor. É fundamental. Diz João: “Quem não ama permanece na morte.” “O amor é a asa que Deus deu ao homem para subir até ele” (Michelangelo Buonarotti). “Ao entardecer da vida seremos julgados sobre o amor” (S. João da Cruz).
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Publicado no Portal da Comunidade Católica Shalom
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