"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Nos braços de Maria

Na verdade, esta é a posição que Maria assume nos dias de hoje: ela nos toma em seus braços, como tomou naquele dia o Corpo de Jesus, descido da cruz.

Quando Cristo morreu, era preciso tirar, rapidamente, o Corpo d'Ele da cruz, porque o dia terminava às seis horas da tarde. Os corpos não podiam ficar ali depois desse horário porque começava o dia do sábado. Ao ser tirado da cruz, o Corpo do Senhor foi deixado nos braços da Virgem Maria. Michelangelo esculpiu uma linda estátua traduzindo isso. É a chamada Pietà, a Nossa Senhora da Piedade.

Todos nós precisamos estar, assim, nos braços de Nossa Senhora. O Corpo de Jesus ficou estraçalhado: depois da flagelação, da coroação de espinhos, da subida para o Calvário, o Corpo d'Ele foi sendo dilacerado. Por fim, na cruz, chegou o auge disso. Os romanos amarravam os prisioneiros uns aos outros para percorrerem o caminho até a cruz. Os condenados andavam em fila carregando cada um o pedaço transversal da cruz. As mãos eram amarradas naquele pedaço de madeira. A corda que amarrava as mãos do que estava à frente amarrava também os pés do prisioneiro de trás e assim por diante, um amarrado no outro.

O condenado mais perigoso, naquela época, era sempre crucificado no meio de outros. E Jesus foi considerado o prisioneiro mais perigoso: temiam toda aquela gente que queria chaciná-lo ou mesmo que Seus amigos interviessem. Ele, por ser o condenado mais perigoso, foi colocado no meio dos outros dois. Imagine, então: a qualquer queda ou solavanco daquele prisioneiro que estava à frente, Cristo iria ao chão... Pior ainda! Quando o de trás tropeçava, Jesus, sem defesa, por estar com as mãos presas no madeiro, ia de rosto ao chão. O Santo Sudário mostra que a face do Senhor ficou transfigurada. É o que está descrito em Isaías 53 e no Salmo 22: “Aquele diante do qual a gente esconde o rosto”.

Quando você vê um acidente feio demais, automaticamente fecha os olhos ou leva a mão ao rosto para não ver. Realmente, o rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo ficou deformado, por tantas vezes que Ele caiu de rosto no chão. O Santo Sudário mostra – e os especialistas examinaram – o hematoma de um dos olhos d'Ele, que ficou como que destruído com aquelas quedas.

Você sabe tudo o que Jesus passou ao ser crucificado e nas três horas em que ficou na cruz. Foi esse Corpo que a Santíssima Virgem Maria recebeu ao pé do madeiro. Foi esse Corpo que ela recebeu ao pé da cruz nos seus braços. O que aconteceu com o Corpo de Cristo é apenas um sinal, porque Ele carregou sobre Si todos os nossos pecados e enfermidades. Ele tomou sobre Si todas as nossas enfermidades. Todos os nossos sofrimentos. As nossas chagas do corpo, da alma e do espírito. Os nossos pecados. As deformações que os vícios fizeram em cada um de nós. Todo estrago que o pecado fez em nós o Senhor carregou sobre o Seu Corpo.

Foi por isso que o Corpo de Jesus Cristo ficou naquele estado. Maria está nos tomando na mesma situação em que tomou o Corpo de Jesus. Tomou-nos em seus braços para curar nossas chagas, nossas enfermidades e todos os estragos que a vida, o pecado e o mundo fizeram em nós. Mesmo que exteriormente não pareça, infelizmente, em nosso interior, em nossa alma, em nosso espírito, ficaram todas essas deformações.

Nossa Senhora, ao pé da cruz, quer tomar a cada um de nós em seus braços para nos banhar no Sangue de Jesus. Para nos curar e nos libertar. Tocar uma por uma em nossas chagas. E fazer-nos, realmente, novos. Imagine quantas machucaduras a vida vez em você! Coisas das quais você teve ou não teve culpa. Porém, a vida fez em você.

Quanta gente foi mal amada e rejeitada até pelas pessoas mais importantes, como o pai, a mãe. Quantos de nós fomos “socados” quando éramos crianças. Passamos necessidades. Até fome. Mas, muito mais que fome de alimento, tínhamos fome de amor, necessidade de carinho e de presença, mas não os tivemos.

Não temos culpa dessas marcas todas. Mas carregamos essas feridas. Quantos de nós, pequeninos ainda, já fomos vítimas de paixões humanas. Abusaram de nós. Ensinaram-nos coisas terríveis. Não estou dizendo que haja culpa. Não! Nós acabamos sendo vítimas. Mas é impressionante como isso fica na lembrança! Até as brincadeiras sexuais que fizeram conosco, porque éramos novos, como uma chapa fotográfica muito sensível, tudo ficou gravado. De quando em quando isso volta à nossa lembrança, com pesar, sentimento de culpa e de acusação.

Como fomos estragados pelo álcool, pelas drogas, por amigos e amigas!... Estragados por uma sexualidade malvivida em nossa adolescência e juventude! Estragados em nossos afetos, porque usaram e abusaram de nossa necessidade de amar e ser amados. Quantos de nós carregamos, hoje, uma ferida terrível por causa de maus-tratos de pai e mãe. Por causa de brigas e até separação dos pais... Por causa de adultério, infidelidade... Nós somos uma chaga viva!

Assim como o rosto de Jesus ficou irreconhecível de tanto ir ao chão, o nosso rosto – a nossa identidade, aquilo que somos – , o nosso rosto de filhos de Deus é que foi jogado, violentamente, ao chão. O nosso rosto ficou tão desfigurado, uma chaga viva, a ponto de não se ver em nós a face de filhos de Deus.

Nossa Senhora quer curar tudo isso! Peça que ela venha curá-lo.

(Trecho retirado do livro “Maria – A Mulher do Gênesis ao Apocalipse” de monsenhor Jonas Abib e publicado no Portal da Comunidade Canção Nova).

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