O profeta Isaias havia anunciado que o Messias abriria sua boca em parábolas para que os de coração endurecido, vendo, não vissem e, ouvindo, não ouvissem. Quando Jesus anunciou sua missão misericordiosa nesta parábola, cheia de ternura, do Bom Pastor, o Evangelista nos relata que “eles não entenderam do que estava dizendo” (Cf. Jo. 10,6). Seu coração estava cheio de ódio porque não o queiram reconhecer como o Filho de Deus e “Novamente apanharam pedras para apedrejá-lo” (vs.21)e mais adiante, procuravam prendê-lo (vs.39).
Que o nosso coração esteja disposto e atento para percebermos todo o ensinamento da parábola e, sobretudo, para a vivermos na confiança ilimitada na bondade de Deus.
O pastor, uma realidade natural para o povo a quem Jesus falava e que perdurou por séculos até bem pouco tempo atrás, antes da transformação da economia rural em industrial. Ele cuidava das ovelhas e as guardava do perigo, levava-as às pastagens e, deixando seguras todas as outras, saía a procurar a que se extraviara, cuidava-lhe as feridas daquela jornada solitária e a levava novamente ao convívio das demais.
Jesus se intitula o Bom Pastor. Bom, ele o era por essência, como Filho de Deus, em quem habita. Em sua plenitude, a Bondade, ensina Santo Gregório, papa. Bom, também e ainda na sua forma, enquanto entregou sua vida pelas ovelhas que lhe foram confiadas pelo Pai. Não só se sacrificou por elas, continua o mesmo santo, mas ainda deu-se em alimento e bebida, na eucaristia: “Bom Pastor, entregou sua vida pela suas ovelhas para que, em sacramento para nós, vertesse seu corpo e sangue e saciasse as ovelhas que remira com o alimento de sua carne”.
Santo Tomas, no hino seqüencial “Lauda Sion”, que se reza na liturgia da missa da festa do Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor, retoma o mesmo tema. Da Eucaristia, memorial da morte de Cristo, que nos dá em alimento, pede e suplica que nos conduza às pastagens eternas.
Na continuidade da parábola, Jesus ensina que a ovelhas conhecem a voz do Pastor e o seguem. Não reconhecem o mercenário, que não é pastor e a quem não interessa as ovelhas senão o ganho da jornada. Ele deixa vir o lobo que rouba rezes e devasta o rebanho. As ovelhas do redil de Cristo e ainda as de outro redil que vieram se juntar, os gentios que estavam longe da Aliança, reconhecem a voz do Pastor pela fé e pelo amor e o seguem aonde Ele as leva porque lhe foram dadas pelo Pai.
Quando Jesus anunciou que daria seu Corpo em alimento, os judeus e muitos discípulos se afastaram. Então o Mestre Divino perguntou aos que ficaram se também eles não queriam ir embora. Pedro respondeu em nome de todos: “Senhor as que iremos? Só tu tens palavra de vida eterna” (Cf. Jo.6,68). Como em outra passagem, não foi a sabedoria humana que inspirou a resposta, senão a inspiração divina, pela fé.
Jesus é a Porta pela qual se entra no redil. Quem não entra por esta Porta é assaltante e ladrão. O único caminho que nos conduz à segurança do aprisco e às pastagens eternas é o Filho de Deus: “Eu sou a Porta: se alguém entra por mim será salvo, poderá entrar e sair e achará pastagens” pois “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Cf. Jo.10,9-10).
Quando da Ascensão aos Céus, Jesus ordenou aos seus discípulos que continuassem a sua missão: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Cf. Mc. 16,15) E, conclui o Evangelho que os apóstolos partiram e pregaram por toda a parte. A continuidade do rebanho de Deus na terra, a Igreja, foi confiada a eles e a seus sucessores. Aos que foram chamados para esta missão devem conformar sua vida com a vida de Cristo e estender sua dedicação, seu amor, a sua misericórdia ao povo de Deus. E, seguindo a mesma lição de São Gregório, já citado, estar dispostos a oferecer sua vida por aqueles que lhe foram confiados.
São Pedro recomenda aos presbíteros: “Apascentai o rebanho de Deus que vos é confiado, cuidando dele, não contra a vontade, mas de bom grado como Deus quer...mas tornando-vos modelo para o rebanho (Cf. 2Ped, 5,2)
A nós, comunidade de fé e caridade, importa reconhecer neles a mesma voz do Pastor Eterno e retribuir com a mesma caridade e amor. Assim seguiremos o Bom Pastor, o Pão da Verdade e reconhecemos que Ele nos apascenta e nos guarda enquanto esperamos atingir os bens eternos na terra dos vivos. (seq. citada.)
DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.
Publicado no Portal A Catequese Católica
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