"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Entendimento ou inteligência


Entendimento ou inteligência

A palavra “inteligência” é, segundo alguns, derivada de intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo.

Na ordem natural, entendemos (intelligimus) quando captamos o âmago de alguma realidade. Na linha da fé, paralelamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reveladas por Deus, é ter a intuição do seu significado profundo. Pelo dom do entendimento, o cristão contempla com mais lucidez o mistério da SS. Trindade, o amor do Redentor para com os homens, o significado da S. Eucaristia na vida cristã....

A penetração outorgada pelo dom da inteligência (ou do entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o estudo; esta é relativamente penosa e lenta; além do que, pode ser alcançada por quem tenha acume intelectual, mesmo que não possua grande amor. Ao contrário, o dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus.

Para ilustrá-lo, conta-se que um irmão leigo franciscano disse certa vez a S. Boaventura (+ 1274), o Doutor Seráfico: “Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que nós, os ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “ Não é a doutrina alcançada nos livros que mede o amor, uma pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um grande teólogo, se estiver unida a Deus”. O irmão compreendeu a lição e saiu gritando pelas ruas: “Velhinha ignorante, você pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaventura!”

O irmão dizia a verdade. Na ordem natural, é compreensível que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrenatural, porém, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, são os que mais profundamente dissertam sobre Ele.

Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar as intuições das verdades da fé que são concedidas a muitos cristãos durante o seu retiro espiritual ou no decurso de uma leitura inspirada pelo amor a Deus. O “renascer da água e do Espírito", a imagem da videira e dos ramos, o “seguir a Cristo” tomam então clareza nova, apta a transformar a vida do cristão.

O dom do entendimento manifesta também o horror do pecado e a vastidão da miséria humana. Por mais paradoxal que pareça, é preciso observar que os santos, quanto mais se aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), tanto mais tiveram consciência do seu pecado ou da sua distância daquele que é três vezes santo.

Em suma, o dom do entendimento faz ver melhor a santidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos seus apelos e também... a pobreza, não raro mesquinha, da criatura que se compraz em si mesma, em vez de aderir corajosamente ao Criador.

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

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