"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Conselho


Conselho

Afirmam os teólogos que Deus não deixa faltar às suas criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida (cf. Sb 11, 20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.

Ora acontece que, para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente não só a conveniência dessa atividade, mas também todas as circunstâncias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes esse processo se efetua sem que dele tomemos plena consciência. Quanto, porém, nos vemos diante de uma tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais consciente; a mente se esforça por ver claro e fazer a opção mais adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Não raro é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais experimentada.

É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudência que cada cristão delibera sobre o que deve e não deve fazer. É a prudência que avalia os meios em vista do respectivo fim.

Pois bem. Em correspondência à virtude da prudência, existe um dom do Espírito Santo, chamado “dom do conselho”. Este permite ao cristão tomar as decisões oportunas sem a fadiga e a insegurança que muitas vezes caracterizam as deliberações da virtude da prudência. Esta por si não basta para que o cristão se comporte à altura da sua vocação de filho de Deus,... vocação que exige simultaneamente grande cautela ou circunspecção e extrema audácia ou coragem. Nem sempre a virtude humana entrevê nitidamente o modo de proceder entre polos antitéticos. A criatura, limitada como é, nem sempre consegue conhecer adequadamente o momento presente, menos ainda é apta a prever o futuro e – ainda – sente dificuldade em aplicar os conhecimentos do passado à compreensão do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois, que o Espírito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos termos devidos.

Assim o dom do conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as faculdades do cristão e as incita a uma atividade harmoniosa e equilibrada. Imagine-se com que circunspecção (cautela e audácia) um maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assinala a cada qual o momento preciso em que deve entrar e os matizes que deve dar à sua melodia. Assim faz o Espírito mediante o dom do conselho em cada cristão.

Diz a Escritura que há um tempo exato para cada atividade1;

fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno.

Ora nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer Sim ou dizer Não. Nem as pessoas prudentes, após muito refletir, conseguem definir com segurança o que convém fazer. Ora é precisamente para superar tal dificuldade que o Espírito move o cristão mediante o dom do conselho.

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(1) Eis o texto de Ecl 3, 1-8:
“Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora.
Há tempo para nascer, e tempo para morrer.
Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou.
Tempo para matar, e tempo para dar vida.
Tempo para destruir, e tempo para edificar.
Tempo para chorar, e tempo para rir.
Tempo para se afligir, e tempo para dançar.
Tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar.
Tempo para dar abraços, e tempo para se afastar deles.
Tempo para adquirir, e tempo para perder.
Tempo para guardar, e tempo para atirar fora.
Tempo para rasgar, e tempo para coser.
Tempo para calar, e tempo para falar.
Tempo para amar, e tempo para odiar.
Tempo para a guerra. e tempo para a paz”.


Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

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