"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Contemplar o rosto de Cristo na Palavra

“A contemplação do rosto de Cristo não pode inspirar-se senão àquilo que se diz d’Ele na Sagrada Escritura, que está, do princípio ao fim, permeada pelo seu mistério; este aparece obscuramente esboçado no Antigo Testamento e revelado plenamente no Novo, de tal maneira que S. Jerônimo afirma sem hesitar: « A ignorância das Escrituras é ignorância do próprio Cristo ».Permanecendo ancorados na Sagrada Escritura, abrimo-nos à ação do Espírito (cf. Jo 15,26), que está na origem dos seus livros, e simultaneamente ao testemunho dos Apóstolos (cf. Jo 15,27), que fizeram a experiência viva de Cristo, o Verbo da vida: viram-No com os seus olhos, escutaram-No com os seus ouvidos, tocaram-No com as suas mãos (cf. 1 Jo 1,1). Por seu intermédio, chega-nos uma visão de fé, sustentada por um testemunho histórico concreto: um testemunho verdadeiro que os Evangelhos, apesar da sua redação complexa e finalidade primariamente catequética, nos oferecem de forma plenamente atendível.9

De fato, os Evangelhos não pretendem ser uma biografia completa de Jesus, neles aparece com fundamento histórico seguro, o rosto do Nazareno, visto que foi preocupação dos Evangelistas delineá-lo, recolhendo testemunhos fidedignos (cf. Lc 1,3) e trabalhando sobre documentos sujeitos a cuidadoso discernimento eclesial. Foi com base nestes testemunhos da primeira hora que eles, sob a acção iluminadora do Espírito Santo, souberam do fato — humanamente desconcertante — de Jesus ter nascido virginalmente de Maria, esposa de José. Daqueles que O tinham conhecido durante os trinta anos aproximadamente que vivera em Nazaré (cf. Lc 3,23), recolheram os dados sobre a sua vida de « filho do carpinteiro » (Mt 13,55) e d’Ele mesmo « carpinteiro », com o quadro da sua parentela bem especificado (cf. Mc 6,3). E registraram a sua grande religiosidade que O levava a ir em peregrinação anual, juntamente com os seus, ao templo de Jerusalém (cf. Lc 2,41) e sobretudo fazia d’Ele um freqüentador habitual da sinagoga da sua cidade (cf. Lc 4,16).

As notícias tornam-se mais abundantes, embora não cheguem a ser um relato orgânico e detalhado, no período do ministério público, a começar do momento em que o jovem Galileu Se fez batizar por João Baptista no Jordão; animado pelo testemunho do Alto e com a consciência de ser o « Filho predileto » (Lc 3,22), dá início à sua pregação anunciando a chegada do Reino de Deus, ilustrando as suas exigências e a sua força através de palavras e sinais de graça e misericórdia. Os Evangelhos apresentam - no-lo caminhando por cidades e aldeias, acompanhado por doze Apóstolos que Ele escolhera (cf. Mc 3,13-19), por um grupo de mulheres que O servem com os seus bens (cf. Lc 8,2-3), por multidões que O procuram e seguem por doentes que esperam no seu poder de cura, por interlocutores que ouvem, com variado proveito, as suas palavras.

A narração dos Evangelhos concorda também no fato de mostrar a tensão que foi crescendo entre Jesus e os grupos dominantes da sociedade religiosa de então até à crise final, que teve o seu epílogo dramático no Gólgota. É a hora das trevas, à qual se segue uma aurora nova, radiante e definitiva. De fato, os relatos evangélicos terminam mostrando o Nazareno vitorioso sobre a morte: assinalam o seu túmulo vazio e acompanham-No no ciclo das aparições, durante as quais os discípulos, primeiro perplexos e atônitos e depois cheios de inefável alegria, O experimentam vivo e glorioso, tendo recebido d’Ele o dom do Espírito (cf. Jo 20,22) e o mandato de anunciar o Evangelho a « todas as nações » (Mt 28,19)”

(João Paulo II Novo Milênio Ineunte).

Publicado no Blog Formação da Comunidade Canção Nova

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