"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

sábado, 1 de novembro de 2008

Valeu, Jesus!

Um dos testemunhos que mais tenho ouvido acerca do curso e livro “Tecendo o Fio de Ouro” pode-se resumir na expressão de um jovem com um passado bastante desacertado que, após testemunhar sua libertação exclamou, como fecho de ouro, dando um golpe no ar: “Valeu, Jesus!”

Os testemunhos, dados, em geral, no final do curso, referem-se, curiosamente, a algo que é dito na primeira parte do mesmo: você não nasceu por acaso, sua vida foi sonhada, desejada por Deus que a viveu com você e, mais que isso, em você, a cada milésimo de segundo. Nada de sua história, positivo ou negativo que tenha sido, foi vivido por você sozinho. Jesus em você, unido por sua encarnação à sua humanidade, à sua vida, à sua historia, viveu cada momento de sua vida unido a você.

Durante o curso e no decorrer do livro, naturalmente, se dá a explicação acerca da inabitação da Trindade, da encarnação de Jesus, da ação do Espírito Santo nos batizados e nos não batizados e tudo o mais. Nenhuma dessas explicações, porém, por primorosa e bela que seja, impressiona tanto quanto o fato de Jesus ter, voluntária, livre e amorosamente, unido sua vida à nossa história.

O jovem a que me refiro, conversou comigo, logo após a palestra, semanas antes do testemunho:

“O que a senhora está querendo dizer é que Jesus viveu comigo os raros momentos em que eu fui “bonzinho”...”, perguntou, sincero.

“A “senhora” não está querendo dizer nada”, respondi, tentando anular a distância entre nós, e continuei, entre risos: “mas “eu” estou querendo dizer que Jesus vive em você e viveu com você cada momento de sua história de vida, quer você tenha sido “bonzinho”, quer tenha sido “mauzinho”...”

Como todos os que fazem a mesma pergunta, ele arregalou os olhos:

“Tem certeza!?!”

“Claro!”, disse eu, fingindo que não sabia qual seria a próxima pergunta. “Não há nada em sua vida que Jesus não tenha vivido em e com você. Para isso ele se fez homem e morreu por você...”, preparei a pergunta que veio, infalível:

“Quer dizer que quando eu errei, quer dizer, quando fiz o que fiz, quer dizer, quando me dei mal, quer dizer...”

“Pequei...”, ajudei, sabendo como este termo é difícil para um jovem hoje.

“Isso aí, quando eu pequei, Jesus também pecou?”

“O que você acha?”, instiguei.

“Acho que não...”

“Claro que não, seu bobo. Jesus é Deus. Ele não peca e é aí que está a beleza: quando você errou, caiu, se deu mal, pecou, Ele viveu, perfeitamente, diante do Pai o que você viveu tão imperfeitamente e, talvez, até, tão pecaminosamente!”

“Ele...”, calou-se meu amigo, reticente, tentando enquadrar na lógica a carência de lógica do amor.

“Ele viveu aquele momento, aquela decisão, aquela dor, aquela alegria, aquele erro seu de forma perfeitíssima diante do Pai. Viveu assim no seu lugar, entende, do mesmo jeito que ele morreu no seu lugar, Ele viveu isso no seu lugar. Isso é salvação. Isso é fruto da Cruz. Isso é intercessão.”

“Minha avó é intercessora...”]

“Por isso você está aqui”, pensei. E, depois, em voz alta: “Então, fala isso para a sua avó. Ela vai entender. Acho até que ela vai entender melhor o ministério dela...”

“Ela reza terço em cima de terço...”

“Pois é. Ótimo! Mas a intercessão de Jesus é perfeitíssima. Ele não fica falando e falando diante do Pai. Ele vive. Está ressuscitado diante do Pai e vive em você. De forma perfeita, Ele vive o que você viveu de forma imperfeita e, diante do Pai, sua própria vida em você e entregue por você, perfeitissimamente, intercede, coloca-se no seu lugar, como se dissesse: “Vê a mim, Pai, olha a mim neste momento. Perdoa-o! Ele não sabe o que faz!”

O jovem tentou disfarçar com um carioca “Caraca!” seus olhos marejados de lágrimas.

“Por isso, meu lindo, você tem chance. Por isso você se arrependeu, por isso você está aqui hoje. Jesus tomou o seu lugar e viveu com a perfeição do amor o que você viveu no erro do desamor”, disse, pegando amorosamente em sua mão e, depois, acrescentando com um leve tapinha no seu rosto: “Mas isso não quer dizer que você pode sair por aí fazendo besteira não, seu cabra...”

Disse esta frase para que as coisas ficassem bem claras. O fato de Jesus viver perfeitamente em mim não significa que estou livre para pecar. Disse isso, porém, por puro dever de consciência. A experiência me ensinou que uma vez tocadas pela misericórdia gratuita de Deus, as pessoas aderem a Ele e ao Evangelho sem medo, por pura gratidão e com imensa alegria. É isso que atestam testemunhos como o deste jovem, o de uma pessoa que convive com o vírus da Aids e suas conseqüências, os de inúmeros adultos que entenderam, através de exemplos tão simples, o que é a salvação, o que é a intercessão, o que é, afinal, Jesus ser o único intercessor, o pontífice.

Por essas e por outras, não me canso de repetir, a cada palestra: “Quando você ganhou aquela bicicleta vermelha, Jesus, em você, alegrou-se. Jesus pulou em você de alegria quando encontrou embaixo da cama a boneca dos seus sonhos. Em você – mais que com você – Jesus celebrou a formatura, encheu-se de ternura com o nascimento dos seus filhos, encheu-se de dor com a morte do parente querido. Jesus vive em você. Não lhe é indiferente. Não é indiferente à sua história. Jesus, em você, viveu perfeitamente o que você, em sua fraqueza, viveu imperfeitamente.” E, com meus botões, lembro-me do testemunho do jovem e grito, de mim para mim mesma, enquanto aguardo a ação da graça no coração perplexo das pessoas acostumadas ao moralismo estéril: “Valeu, Jesus!”.

Em tempo: Teresinha, a do Menino Jesus, a que entendeu isso muito bem, faz-se minha cúmplice e sempre grita comigo.



por Maria Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Shalom

Publicado na portal da Comunidade Católica Shalom

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