"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A unidade original do homem e da mulher na humanidade


A família tem sido alvo de muitos ataques. Acreditamos que ela é a base fundamental da sociedade. Sem família o ser humano padece de aconchego, proteção e amor. Por isso vamos continuar dando ênfase ao que ela tem de mais precioso para que todos nós possamos salvaguardá-la de todo o mal. Neste artigo vamos refletir sobre a unidade original do homem e da mulher na humanidade.

Para entendermos esse tema tão importante precisamos entender o mistério da criação do homem. O homem, homem e mulher, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Isto significa que o homem é o ápice de toda a criação. O homem, homem e mulher, coroa toda a obra da criação.

Dizer que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus quer dizer que o homem é chamado a existir como pessoa, com livre arbítrio e razão, capaz de conhecê-Lo e de amá-Lo. Mas significa ainda que o homem é chamado a existir para os outros, a tornar-se um dom. Isto consiste em existir em referência a um outro “eu”, como o Deus Trindade. Essa relação deve ser recíproca e nesse ser “para o outro” acontece a integração querida por Deus no “princípio” daquilo que é masculino e daquilo que é feminino. Então o homem e a mulher são chamados a viver uma comunhão de amor. Como afirma João Paulo II, são chamados a viver uma “unidade de dois”. Essa unidade de dois deve transbordar assim para toda a humanidade.

Quando o livro do Gênesis afirma que “não é conveniente que o homem esteja só” (Gen), está revelando que o homem foi criado para “ser para o outro”, é chamado à unidade original. Dentre todos os seres criados ele não havia encontrado que pudesse vivenciar com ele esta sua vocação.

O sentimento da solidão original entra a fazer parte do significado da unidade original, cujo ponto-chave parece ser precisamente as palavras: “O homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne” (Gen 2,24). Os dois modos de “ser corpo” do mesmo ser humano, são chamados à comunhão de amor entre si e desta com toda a humanidade. A família nasce dessa vocação ao amor vivido por Deus Trindade. A família nasce da necessidade que o homem tem de amar e ser amado, de não fechar em si mesmo, de não “repudiar” nenhum dos seus semelhantes. Existe uma semelhança entre a união das Pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança manifesta que o homem, única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode se encontrar plenamente senão por um dom sincero de si mesmo. Isto significa que o homem, homem e mulher, só pode alcançar a própria realização senão “por um dom sincero de si mesmo”.

A família, portanto, tem como raiz a própria peculiaridade da criação do homem, como homem e mulher. A família nasceu da necessidade ontológica que o homem possui de doar-se a si mesmo. A família nasceu da vocação do homem ao amor. Está inserida no mistério da criação da forma que ela foi querida por Deus.

Erra-se gravemente ao pensar que a família é uma dimensão que se pode prescindir da vida da sociedade e da humanidade.

Adão ao contemplar pela primeira vez Eva manifesta alegria e até exultação, de que anteriormente não tinha motivo, por causa da falta de um ser semelhante a si. Adão manifesta a alegria em relação ao outro ser humano, a alegria para o segundo «eu», que é Eva, demonstrando assim que aquela primeira mulher, “criada da sua costela” (Deus serve-se da sua “costela” só para acentuar a natureza comum do homem e da mulher) foi imediatamente aceita como auxiliar semelhante a ele. O termo “auxiliar” sugere o conceito de “complementaridade”, ou melhor, de “correspondência exata”. Expressa assim que a mulher deve “auxiliar” o homem, e que este, por sua vez, deve ajudar a ela. É fácil assim, compreender que se trata de um “auxiliar” de ambas as partes, de um “auxiliar” recíproco. Humanidade significa chamada à comunhão interpessoal e toda a história do homem sobre a terra realiza-se no âmbito desta chamada. Tudo isto ajuda a estabelecer o significado pleno da unidade original do homem e da mulher na humanidade.

A família tem início de uma especial ação divina. Há uma “incorporação” profunda entre o homem e a mulher que tendem a viver essa mesma “incorporação” com os outros seres humanos. Só assim o homem é feliz. Só assim o homem se realiza.



Bibliografia:
Lúmen gentium
Mulieres dignitatem
Gaudium et spes


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por Germana Perdigão, Comunidade de Aliança Shalom
Revista Shalom Maná - Ed. Shalom

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