"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O que é o amor e quem é o Amor? (Caso Eloá)

Ainda estamos acompanhando na imprensa o desenrolar das investigações do assassinato da adolescente Eloá (15 anos) pelo seu ex-namorado, o jovem Lindemberg (22 anos), em Santo André / SP. Mais um crime que nos choca e mais uma vez uma pessoa inocente é vítima de um desequilíbrio emocional.

Diante de tal acontecimento que leva, infelizmente, o nome do "amor", o "matar por amor", ficamos pasmos. Como não lembrar da expressão do Papa Bento XVI [1] que diz: "O eros inebriante e descontrolado não é subida (...), mas queda, degradação do homem (...), o eros necessita de disciplina." Caso contrário, seu desequilíbrio chega ao extremo de fazer sofrer e até aniquilar uma pessoa a quem se ama, como a si mesmo.

Somente o eros elevado até o amor "ágape" pode então se transformar em "amor que cuida, que não busca a si próprio, mas busca o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes, procura-o pelo bem da pessoa amada".[2] Mas a renúncia é um valor muito pouco valorizado nos nossos tempos. Filhos de um imediatismo cruel, de uma sociedade que tudo descarta quando se trata de um valor moral, religioso, evangélico, somos treinados inconscientemente para o desequilíbrio emocional. Aceitar perder, calar mesmo estando certo, silenciar para não ferir o outro , desculpar-se quando formos grosseiros... tudo parece sinônimo de ser abobalhado e, alguns ainda dizem: não é mais possível viver isso!

O que diria Freud se estivesse vivo a contemplar esse "libido" enlouquecido dos nossos jovens onde tudo deve gerar, a qualquer custo, satisfação pessoal, prazer egoísta e possessividade? Também o filósofo Nietzsche precisaria ficar convencido de que o Cristianismo não põe veneno no eros, mas pelo contrário, dignifica-o, eleva-o e impulsiona-o a ir além da emoção, ou seja, torna-o amor que quer a felicidade do outro, saindo assim o eros da sua embriagues irracional.

Recordo o Evangelho do Domingo em que morreu no hospital a adolescente Eloá (Mt 2, 15-21: Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César!) Fiquei pensando comigo: "Quem são os Césares do nosso tempo?" Não serão todos aqueles nos quais depositamos todas as nossas expectativas humanas como busca desesperadora por felicidade, por ser amado? César se proclamava "deus" e precisava corresponder às expectativas dos seus súditos. Eloá veio assim a se tornar "uma deusa" para o jovem Lindemberg. Ela não pôde corresponder às expectativas do ex-namorado e a ordem era a mesma de Herodes quanto ao pequeno menino Jesus: matar! Se não compartilha dos meus interesses não pode viver! Não é esta a nova "regra de ouro da violência" nos nossos dias?

O amor eros é uma vitalidade indispensável! Ele é a mola propulsora das nossas emoções e essa capacidade de fazer emanar os impulsos, mas se não faz uma ascendência ao amor ágape, único capaz – diz o Papa Bento XVI – de prometer infinitude e eternidade, não pode amadurecer no cuidar, na promoção da felicidade de si e nem do outro. Tal amor eros não terá condições de deixar o outro livre, mas sua liberdade será sempre uma ameaça para mim.

Será que a jovem Eloá tinha o direito de fazer sua opção enquanto digna do direito e da possibilidade de construir o seu futuro? Lindemberg não conseguiu compreender que "somos livres", que Deus nos criou livres, com o altíssimo dom da liberdade e que, por meio dela, podemos até mesmo cometer a loucura de rejeitar amar o próprio Deus. Apesar disso, Deus não deixa de nos amar, ama-nos ao extremo de dar a vida do seu próprio Filho pela nossa salvação.

Os pais costumam afirmar: "Nossos meninos não sabem mais amar!". Nossos jovens não sabem mais o amor de altruísmo, que cuida, que dá a vida pelo outro e não o contrário, que rouba desastrosamente a vida do outro. Mas os pais não sabem mais dar limites aos filhos. As conseqüências desta educação são catastróficas. Nossos jovens estão amando errado porque já não conseguem encontrar nos pais aquele modelo de amor que renuncia pelo bem do outro, que perdoa, que protege, que sabe sempre recomeçar no amor quando o outro erra, que simplesmente ama.

Também – dizem os pais - os nossos meninos não suportam mais ouvir um "não"! Qualquer "não" é sempre uma ameaça. Não se tem mais estrutura, maturidade humana para viver a abnegação e a capacidade de querer sempre a felicidade do amado mesmo que eu tenha que perder. Aqui não se pode esquecer daquela adolescente da cidade de Nazaré, a Virgem Maria, que soube refletir sobre o pedido do anjo, pediu-lhe uma explicação, mas livremente renunciou aos seus lindos planos para fazer a vontade de Deus. Quão bela foi a atitude do jovem José, seu castíssimo esposo: amou aquela adolescente e se dispôs a dá a vida por ela! O amor simplesmente ama em qualquer situação. Ah se os casais de hoje conseguissem viver isso e o comunicassem aos seus meninos e meninas!

E perguntamos: por que nossos jovens não refletem mais suas decisões? A agressividade, o desespero e a violência são as respostas quando o coração não mais se eleva para dá uma resposta positiva aos "nãos" da vida? O amor, o verdadeiro amor não pode matar, mas ele se entrega livremente: "Ninguém me tira a vida, eu a dou por mim mesmo" (Jo 10,18). O verdadeiro amor não interrompe a beleza e o curso da vida, não arranca dela a única oportunidade de fazer sua escolha e buscar seus planos e sonhos. O amor não pode fazer de "uma paixão não correspondida" uma decisão cruel de destruir tal vida, por sua vez, tão jovem. Eloá só queria o direito de poder escolher um namorado que pudesse, com ela, construir uma família feliz e que pudessem como casal ensinar aos filhos o que é amar até o extremo para se querer a felicidade do outro. Realmente ela estava certa na sua decisão, mas não pode exercer sua liberdade de ao menos ter a chance de tentar no exercício de aprender a amar.

Nada se pode justificar tamanha covardia, mas, apesar de tudo, não se pode esquecer que a misericórdia de Deus nunca destruirá a liberdade dos seus filhos. Essa misericórdia é a única que pode elevar a vida à sua altíssima vocação que é o amor a Deus. Lindemberg é hoje mais um réu de uma justiça humana, mas será sempre convidado a ser filho na comunhão do amor. Não vim para os bons, mas para os doentes, diz o Senhor da vida. Precisamos - nós cristãos - sair de um simples sensacionalismo e nos conscientizarmos de que o homem de hoje, as Famílias e, especialmente, os nossos jovens, precisam encontrar o Evangelho, que é uma Pessoa, Jesus Cristo, o único que pode satisfazer a todos os nossos mais profundos anseios do coração e da alma.

Rezemos ao Pai, com Bento XVI,[3] através do coração de Maria: "Mostra-nos, ó Virgem e Mãe, o que é o amor, onde este tem sua origem e de onde recebe incessantemente sua força". Ensina-nos Mãe e, aos pais de hoje, aos filhos e aos jovens namorados, o que é o amor e quem é o amor! Assim seja!
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[1] Cf. Deus Caristas Est, 4.
[2] Cf. Ibidem, 6.
[3] Deus Caristas Est, 40



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por Antonio Marcos , Missionário na Comunidade de Vida Shalom ,
Comunidade Católica Shalom

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