"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Está sofrendo? Reze!


Seja qual for o seu sofrimento, deve saber amá-lo e aceitá-lo

Quando você sofre, deve manter presente duas coisas: 1) Deus não quer o sofrimento porque é o Deus da vida, do amor, da felicidade. 2) O sofrimento faz parte da situação finita, passageira e humana do nosso ser.

Sabemos que pelo pecado entrou no mundo todo tipo de sofrimento. É necessário saber olhá-lo não com desespero, fuga, revolta, mas com tranqüilidade e paz interior.

Não é possível viver sem doença, sem sofrimento, sem conflitos. Eles fazem parte do nosso ser humano. Nós os encontramos presentes na vida de todos: dos santos e dos pecadores, na vida de Jesus, de Nossa Senhora e de todas as pessoas amadas por Deus.

Não podemos fugir à "deterioração" do nosso corpo que envelhece, adoece e morre. Diante disso, é necessário mudar de enfoque e contemplar tudo isso como caminhos que nos levam à maturidade, nos enriquecem de experiências e nos preparam para "céus novos e terras novas", onde não haverá mais dor nem lágrimas.

Hoje, não sabemos mais ser alegres porque rejeitamos os ferimentos e nos desesperamos até o ponto em que, para fugir da dor, há quem pregue como remédio a morte, a eutanásia, o suicídio. É claro que esses meios são contrários à vontade de Deus e contra a nossa natureza humana, que é feita para viver. Seja qual for o seu sofrimento, deve saber amá-lo e aceitá-lo, procurando, sem dúvida, todos os meios para aliviá-lo.

Não é necessário nem ir ao encontro do sofrimento nem pedir sofrimentos, é só aceitar os que encontramos no nosso caminho.

O pior serviço que podemos prestar a Jesus é apresentá-Lo como Aquele que vai em busca da morte, da dor, do sofrimento. Pelos Evangelhos, podemos ver Jesus diante da dor da qual Ele nos ensina a fugir. Recorda?

Quando Jesus é procurado par ser jogado do alto do monte, o que Ele faz? Foge. Quando os guardas O procuram para prendê-Lo no templo, o que o Senhor faz? Foge. E quando estão tentando matá-Lo? Jesus também foge. Ele sempre foge... Mas quando a cruz, a morte, o sofrimento se tornam o único caminho de fidelidade ao Pai, ao projeto de Deus em sua vida, Ele os assume.

"Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se, arrastaram-no para fora da cidade e o conduziram até o alto do monte onde estava construída a cidade, para dali o precipitarem. Mas, passando por meio deles, Jesus foi embora" (Lc 4,28-30).

"Depois de assim falar, Jesus retirou-se e se escondeu deles" (Jo 12,36).

"Por isso, Jesus já não andava em público entre os judeus. Retirou-se, em vez disso, para a região mais próxima ao deserto, para uma cidade chamada Efraim, e ali morava com os discípulos" (Jo 11,54).

"De novo procuraram prendê-lo, mas Ele se esquivou de suas mãos" (Jo 10,39).

Esta deve ser a nossa atitude. Quando o sofrimento é o único caminho de fidelidade a Deus e aos irmãos, devemos aceitá-lo com amor.

Tente identificar a origem de seus sofrimentos: físicos, espirituais, morais. Veja se lhe é possível aliviá-los ou fugir deles e depois reze, peça a Deus a força para poder assumir a cruz como dom do mesmo amor de Deus. Afinal, pela fé sabemos que "completamos na nossa carne o que falta à paixão de Jesus Cristo". Escute estas palavras de Elisabete da Trindade:

"Ó meu Cristo amado, crucificado por amor; quisera ser uma esposa para vosso Coração, quisera cobrir-vos de glória, amar-vos... até morrer de amor! Sinto, porém, minha impotência e peço-vos revestir-me de vós mesmos, identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa, submergir-me, invadir-me, substituir-vos a mim, para que minha vida seja uma verdadeira irradiação da vossa" (Elevação à Ssma. Trindade).

E de João da Cruz:

"Crucificada interior e exteriormente com Cristo, viverá nesta vida em fartura e satisfação de sua alma, possuindo-a na paciência" (Ditos 85).

"Que lhe baste Cristo crucificado! Com Ele sofra e descanse; mas para isso há de aniquilar-se em todas as coisas exteriores e interiores" (Ditos 90).

Nem todos os sofrimentos são iguais, devemos saber distingui-los para não "fazer tempestade num copo de água". Alarmar-se exageradamente nunca faz bem à nossa saúde física, mental, espiritual e emocional. É necessário sempre redimensionar as coisas. E, diante dos problemas da vida, saber o que podemos mudar porque algo depende de nós; e o que não podemos mudar é porque não depende de nós.

O cristão, porém, nunca vai assumir uma atitude "estóica e determinista". Ele sabe que, para não ser agredido pelos sofrimentos, é necessário aceitá-los pelo caminho do amor. O que muito nos pode ajudar é meditar a Paixão do Senhor Jesus: veja os capítulos 26-27 do Evangelho segundo Mateus; capítulos 14-15 de Marcos; capítulos 18-19 do Evangelho de João e o belíssimo caminho de Jesus apresentado pelo apóstolo Paulo:

"Ele, subsistindo na condição de Deus, não pretendeu reter para si ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se solidário com os homens. E, apresentando-se como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte da cruz. Pelo que também Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está sobre todo nome. Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho de quantos há no céu, na terra, nos abismos. E toda língua proclame, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor" (Fl 2,6-11).

Minha experiência

Na minha vida, como na de todos, não tem faltado sofrimentos e dores de todo tipo. Mas com a graça de Deus e com a ajuda dos místicos do Carmelo, tenho conseguido compreender que o sofrimento é um "palácio", um "dom de Deus". Quando me encontro no sofrimento, tomo em minhas mãos o crucifixo e fixo, atentamente, o olhar em Jesus crucificado, e aí recebo toda a coragem e a força para não desanimar. E vejo a verdade das palavras de Jesus:

"Na verdade eu vos digo: se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer, produzirá muito fruto" (Jo 12,24).



Frei Patrício Sciadini
(Extraído do livro "Quando rezar?" de Frei Patrício Sciadini)

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