
Falar de amor, hoje, é uma facilidade sem tamanho. Virou rima pobre de música, discurso barato na azaração dos jovens e desculpa para crimes e barbaridades; enfim, perdeu quase que completamente a excelência dada por Jesus em Sua vida. Depois de milênios quebrando a cabeça ao tentar se abrir em direção aos outros e a Deus, o homem parece ainda infantil ao definir o significado pleno do ato de amar na sua existência. E, como o significado exato lhe escapa pela sua teimosia em não escutar a Deus que mora em si, ele vai chamando de amor qualquer coisa que se assemelhe a este sentimento, segundo seu juízo ferido e perdido.
É interessante como, na boca de Cristo, a palavra amor ganha um significado intenso e simples. Ele ordena: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei! Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros!” (Jo 14, 12-17). Nota-se que é uma exortação, uma necessidade, um pressuposto lógico para se obter a tão desejada salvação. Não há caminhos miraculosos ou misteriosos para se chegar à Graça – o amor consegue ser, ao mesmo tempo, causa e conseqüência, ação e reação, contração e distensão. Para o homem, porém, o amor é o pior dos caminhos, a mais falha, decadente e sem-graça das suas aspirações, porque ele não busca atar esse elo com Deus (e, é claro, con-sigo mesmo). Ele busca ater-se ao seu egoísmo, à sua humanidade, tentando assim vivenciar uma mudança de vida a partir de suas próprias forças, falhas e poucas. Amar torna-se um far-do, um peso, porque é verbo que pede como objeto, além de próprio amante, o amado, que é sua razão de ser...
Segundo Dom Amaury Castanho, “(...) é fácil perceber, no conjunto da mensagem do Nazareno, que o Reino de Deus se caracteriza pelo amor e a justiça, a pobreza e a paz, a graça divina, a verdade e a simplicidade”. O amor é a substância do Céu. Aliás, o amor é a essência de Deus, e ele torna-se “preso” à ela quando nos elege como objeto de seu amor, posto que ele só sabe amar, na infinitude de si. Essa “prisão” é, para nós, o verdadeiro significado da liberdade, mas não a buscamos porque nos prendemos ao pecado que há em nós, trazido como herança pela desobediência primeira da humanidade, que quebrou, no início da criação, esse elo com Deus, que é aliança de amor e a própria história da salvação de todos nós.
O ato de amor deve concluir-se com total perfeição, a fim de conseguirmos a eternidade. Exige-se, pois, um sujeito, um verbo e um seu objeto para que, unidos entre si, perfaçam o sentido da caridade que Cristo legou em Sua Palavra. Um sujeito que, livre e espontaneamente, almeja agir para obter o amor; um verbo que, em si, já expressa esse desejo de buscar o outro para atingir o seu pleno significado; e, por fim, um objeto que deseja receber esse amor para, respeitada a aliança, devolvê-lo em maior magnitude. O verbo a escolher é o amor. Nós, então, devemos ser este sujeito de amor e Deus deve ser objeto da nossa ação, haja vista que Ele, na nossa vida, já conjugou, antes e infinitamente, o verbo amar em nós e na nossa existência...
Os santos souberam escolher o objeto de seu amor e, por isso, gozam do Céu. Entre eles, destaca-se sua Rainha, Maria, Mãe Santíssima de Jesus, que fez do seu “sim” sinal claro de sua opção pelo amor maduro e desmedido, impulsionado pela grandeza de Deus que abraça sua pequenez (cf. Lc 1, 38). Ninguém amou como ela o Verbo Amor de Deus, guardando-o em seu seio e conduzindo-o com sua maternal afeição. Ela soube descobrir o segredo e o mistério de amar, fazendo a simples escolha pelo amor, sem grandes ambições e sem se apegar a si mesma e à sua humanidade. De Maria, aprendemos o amar que é ação de Cristo, substância e essência de Deus. Amar na coragem e na ousadia que quem já se sabe objeto especial desse Amor...
Contato com o autor: shbreno@yahoo.com.br
Publicado originalmente no Portal da Comunidade Shalom
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