Homilia do Padre Antônio Furtado no 2º Domingo da Quaresma de 2009Estamos na quaresma, tempo de especial de treinamento espiritual, caminhamos com Jesus para reverenciarmos na semana santa o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A cada dia, todos os que estão levando a sério este tempo, especialmente por meio da liturgia e da palavra de Deus vão percebendo Deus lhes levando a dar passos na vida de Jesus.
Na semana passada, Jesus estava no deserto, e hoje na montanha. O deserto é seco, quente, sacrificante. A montanha também por sua vez tem suas dificuldades. O monte tabor onde ocorreu a transfiguração de Jesus – quem já foi lá sabe – é muito sacrificante ir lá, principalmente a pé. Jesus chama alguns dos seus – Pedro, Thiago e João – para subir lá. Lucas diz que Jesus subiu lá para orar e não para transfigurar-se e na oração se deu a shekiná de sua glória, e os discípulos viram Jesus transfigurado, suas roupas tão brancas como nenhuma lavadeira poderia alvejar. Eles vêem o Jesus que tinha se despojado a sua glória, em grande glória.
Na primeira leitura, uma história em outra montanha: Abraão - que como sabemos - é um homem escolhido por Deus, velho e de mulher estéril que recebera a promessa difícil de se cumprir de que teria descendentes tantos quanto a areia da terra, quanto as estrelas do céu, e que lhe havia recebido Isaac. Deus então pede seu filho em holocausto, em um monte indicado por Deus. Este monte, um monte conhecido pelos tempos, onde mais tarde teria sido feito o templo de Salomão, o templo de Herodes e hoje está a mesquita de Omã.
Este caminho de subida é necessário ser feito, de sacrifício, de ir em busca de Deus, ir ao encontro de sua intimidade. A montanha é tida na palavra como lugar de encontro com Deus, onde Deus fala. Poderemos encontrar depois Jesus em outro monte, o das Oliveiras, onde se dá sua batalha espiritual, onde ele vai optar pela vontade do Pai – Faça-se a sua vontade – em meio a grande batalha, se pondo diante de Deus para o se dispor a ser levado a outro monte, o monte Calvário para ser sacrificado.
Precisamos oferecer a Deus, tudo em nossa vida que é preciso oferecer, não só o que é ilícito - galhos secos. Mas também o que parece bom mas não está dando o fruto que é para dar.
Deus quer podar em nós, diz em nossas regras da Comunidade, mesmos nossos galhos verdes. Os galhos secos já deviam ter sido cortados. Devemos também nos preocupar com os galhos aparentemente verdes, mas que não dão frutos, que precisam ser podados para darem frutos. Coisas em nossas vidas até boas, até dadas por Deus, mas que em vista de um bem muito maior devem ser ofertados a Ele. Abraão ouvira a voz de Deus para entregar seu filho Isaac que já era em si mesmo presente de Deus, algo bom, lícito, mas mesmo assim foi o ofertar. No monte iria já cumprir a vontade de Deus, vemos que Abraão estava com a faca pronta para ofertar seu filho, e ele o faria, mas Deus o poupa, Deus manda seu anjo no exato momento e lhe pede: não mais, viu sua entrega, viu que Abraão o ofertara. Mas também sabemos que Deus não viria a fazer isto consigo mesmo, não viria a poupar a si mesmo ocorrendo assim o sacrifício de seu próprio filho.
Temos que ver o que Deus nos pede, vemos na Palavra que quando houve a transfiguração, estiveram ao lado de Jesus Elias e Moisés, a lei e os profetas. Mas é preciso nos concentramos no essencial, vemos que no decorrer da passagem bíblica, todos desaparecem do lado de Jesus, o que não é essencial desaparece. A conversão é a resposta essencial de quem viu Jesus, de quem se voltou para ele, de quem deixou de olhar o essencial. Os apóstolos na transfiguração sobem a montanha com Ele e tem ali a experiência com Ele. Por irem lá vêem ali como ele é. E o vêem assim, porque mais adiante o veriam desfigurado, precisariam saber quem é aquele que estaria ali desfigurado. Se o filme de Mel Gibson causou repugnação, quando víamos o rosto de Cristo desfigurado. Ainda assim, não era sua verdade lá, pois quem o viu de verdade lá no Calvário presenciou cena ainda pior, pois a palavra de Deus dissera que ele ficaria de tal modo que não se conseguiria nem olhar para ele.
É preciso para viver esta realidade e ser seu amigo: admirar, acreditar, e seguir (decidir-se). Aceitando a cruz de Cristo, consciente que morrer para o pecado é aceitar a vida. No batismo e na confissão atualizamos a redenção de Cristo. Antes do batismo a criança é apenas uma criatura, e então se torna filho de Deus. Hoje há quem diga que se deixe a criança crescer para decidir, eu respondo: então não a vacine, deixe ela crescer para decidir se quer ser vacinada... Então, não registre seu filho como Brasileiro, deixe ele decidir quando crescer... ninguém faz isso. Porque é grande bem, e sendo responsáveis queremos o melhor para eles. E o que de bem é de nosso interesse procuramos o quanto antes. Quando houve vacina para não morrer de febre amarela, até onde não havia perigo de havê-la se tomava a vacina. Se tivesse remédio para não pegar doença, para não morrer, então o tamanho da fila nem ia ter fim.
Precisamos nos aproximar das fontes da Vida.
- A Eucaristia. Numa missa de quinta, vi como o demônio treme diante de Deus. Ele que segundo a Palavra crê e treme diante de Deus, ao atormentar uma pessoa foi posto diante do Santíssimo. O mesmo Jesus que fica na capela 24 horas e que tantas vezes nem ficamos lá com Ele, que às vezes não queremos ou nos é tão difícil estar com Ele em vigília. Naquela pessoa vimos o pavor, o ódio e o medo diante de Jesus. Na Eucaristia, perceba que ali está Jesus inteiro, mesmo com todos os acidentes de pão. Ali está mais que a lei mosaica, com seus ritos e ablusões – Em Cristo está não apenas a voz dos profetas, diz-nos muito bem as escrituras que nos últimos tempos Deus falou-nos através de seu filho.
- O sacramento da reconciliação, nos aproximar dela e prepararmo-nos para ela. Exame de confissão, arrependimento, ... na confissão, a maioria dos que se confessam comigo, uns 90% não sabem o ato de contrição, que são apenas poucas linhas.
- A Palavra de Deus. A quaresma é tempo de mergulhar em coisas simples, mas muito sérias, uma palavra, uma oração pode fazer uma grande diferença: ouvir a palavra de Deus, mergulhar nela, faz uma grande diferença em nossa vida. De ouvir bem a voz de Deus, pode depender nossa felicidade, ou não, neste mundo e no outro. Eis o meu filho escutai-o. Padre Rufus, que pregou um retiro para nós escreveu um livro e estava feliz por ter vendido 5.000 cópias. Quando chega em sua terra ouve porém que um livro de um homem herético tinha vendido na mesma época 50.000. Porquê? Por que vamos em busca de tantos livros diferentes. Em vez de lermos tantos livros de auto ajuda das prateleiras, que saem demais , devíamos ler a bíblia que esta sim tem promessas verdadeiras, caminhos verdadeiros.
Que Deus nos dê a graça nesta quaresma de nos decidirmos por nossa vida espiritual.
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por Padre Antônio Furtado, Comunidade Católica Shalom