“Quando se apresentavam palavras tuas, eu as devorava: tuas palavras eram para mim contentamento e alegria de meu coração” (Jr 15,16).
Aproximar-se da Palavra de Deus gera alegria no coração. O mês dedicado à Bíblia quer mais uma vez lembrar de sua importância em nossa caminhada cristã. Ler, escutar atentamente, conhecer existencialmente, contemplar, amar, deixar-se transformar pela Palavra é o melhor caminho para o encontro pessoal com o Senhor. “De manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como os discípulos” (Is 50,4).
Toda a História da Salvação comprova que a Palavra de Deus é viva. Quem toma a iniciativa de se comunicar é o próprio Deus, fonte da vida (cf. Lc 20, 38). A sua Palavra dirige-se ao ser humano, criado para ser capaz de entrar em comunicação com o seu Criador. A Palavra de Deus acompanha o ser humano desde a criação até o fim de sua peregrinação terrena.
Manifestou-se de diversos modos, atingindo o ápice na Encarnação do Verbo, por obra do Espírito Santo (cf. Jo 1, 1. 14). Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é “Aquele que vive” (Ap 1, 18), Aquele que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68).
Na Bíblia encontramos tudo o que Deus tem a nos comunicar. Antes de se fazer carne e alimento eucarístico, o Verbo se fez escritura, Palavra de vida e de amor, revelação de sua bondade e infinita misericórdia.
O homem e a mulher de hoje sentem uma grande necessidade de ouvir Deus e falar com Ele. Há uma abertura apaixonada pela Palavra de Deus. A escuta religiosa da Palavra de Deus é fundamental para o encontro com Ele. Vivemos a vida segundo o Espírito em proporção da capacidade de dar espaço à Palavra, de fazer nascer o Verbo de Deus no nosso coração. A essa abertura do ser humano Deus invisível fala aos seres humanos como a amigos e conversa com eles, para convidá-los e recebê-los em comunhão com Ele (cf. DV 2).
A leitura freqüente da Bíblia nos habituará à voz do Espírito, ajudar-nos-á a reconhecê-la nas diversas circunstâncias da vida e nos ensinará a contar nossos dias e a ter um coração sábio (cf. Sl 89,12).
A Palavra nos faz mergulhar em Deus, leva-nos a uma união sempre mais íntima com ele, cria em nós o “senso bíblico”, uma mentalidade segundo o autor sagrado.
A compreensão e penetração da Escritura Sagrada acontece na razão direta com a transparência de coração e a santidade de vida. A alma que ler a Palavra sem a preocupação de vivê-la e pôr em prática sua mensagem, morrerá de sede à beira dessa fonte de água viva... É questão de abandonar-se ao louvor silencioso do coração, num clima de oração adoradora, como a Virgem do silêncio e da escuta, porque todas as palavras de Deus se resumem e devem ser vividas no amor (cf. Dt 6, 5; Jo 13, 34-35).
A exemplo de Maria Santíssima, somos convidados a redescobrir a maravilha da Palavra de Deus, que é “viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4, 12). E a redescobrir sua eficácia no próprio coração da Igreja, na sua liturgia e na oração, na evangelização e na catequese, na vida pessoal e comunitária. A Palavra de Deus qualifica a presença da Igreja na sociedade como fermento de um mundo mais humano.
O ideal seria transplantar a Palavra de Deus para dentro de nós, apoderando-nos dela, convertendo-nos totalmente a ela. Assim, nossos pensamentos, sentimentos e desejos dariam lugar ao pensar, ao sentir, ao querer e ao amar de Cristo Jesus. Feitos discípulos de Jesus, poderemos experimentar o sabor da Palavra de Deus (cf. Hb 6, 5), vivendo-a na comunidade eclesial e anunciando-a aos de perto e aos de longe, tornando atual o convite de Jesus, Palavra feita carne: “o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc 1, 15).
O mais desejável, portanto, é que cada um de nós tenha apetite sempre mais delicioso para a Palavra de Deus, e adquira um verdadeiro ”espírito bíblico” em seu peregrinar de volta para a casa do Pai. Empenhando-nos em conformar nossa vida ao que lemos, a Palavra nos transformará e nos renovará espiritualmente. Não endureçamos, pois, os nossos corações, nem engrossemos o número daqueles que a ouviram e de nada adiantou. Antes, ouçamos “hoje” a sua voz, “pois a Palavra de Deus é viva e eficaz” (cf. Hb 4, 2.7.12). O espírito dócil e disponível lê, ouve, medita, reza, contempla e vive a Palavra de Deus.
Dom Nelson Westrupp, SCJ
Bispo Diocesano de Santo André e Presidente do CONSER
Artigo publicado no portal da Canção Nova
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