"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Páscoa de Jesus: a última chance

Até parece título de filme, não é verdade? Mas é a expressão de uma realidade da nossa fé. Nós já tivemos uma oportunidade extraordinária de sermos pessoas realizadas e plenamente felizes. Porém, desperdiçamos esta chance. Fizemos o projeto de Deus fracassar.

Deus nos criou em estado de graça. Mergulhados em um universo muito perfeito de comunhão e bem estar, direcionados para a conquista de nossa felicidade. Vamos relembrar com mais detalhes inspirando-nos na narrativa do livro do Gênesis. Deus coloca o homem no jardim do paraíso. “O Senhor Deus plantou um jardim em Éden e pôs ali o homem que havia formado” (Gn1, 8). Em perfeita união com ele, pois não era um jardim separado do seu, de Deus.

Era o mesmo, ou seja, o homem tinha contato amigo e constante com seu criador. O modo poético como é feita a narrativa, me faz vir à mente a figura de Deus descontraído e à vontade andando no paraíso com sua criatura. “Quando ouviram o ruído dos passos do Senhor Deus, que todas as tardes passeava pelo jardim à brisa da tarde...” (Gn 3,8).

Harmoniosa também era a relação das pessoas entre si. O ser humano foi feito um para o outro. Somos tirados do coração do outro, ou, como diz o texto, da costela do outro. “E o homem exclamou: desta vez sim é osso de meus ossos e carne de minha carne” (Gn 2,23).

“E Deus viu tudo que havia feito e era muito bom” (Gn 1,31). Parafraseando, podemos dizer: e foi a primeira chance. Perdida. O casal não corresponde. Desconfia de Deus dando ouvidos à tentação. Rompe com Deus. Instala-se o desentendimento e a violência entre si. Acontece o primeiro fratricídio. Caim mata Abel. A natureza se revolta. “Amaldiçoado será o solo por tua causa. Comerás o pão com suor de teu rosto. Ele produzirá para ti espinhos e erva daninha” (Gn 3,18). Mas o amor de Deus é insistente; Deus não desiste: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho para resgatar os que estavam sob a lei” (Gl 4, 4-5).

E a noticia se espalhou: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um salvador” (Lc 2,11). Sua missão foi anunciar a misericórdia de Deus e o convite à conversão. Com sua palavra forte e poderosa, denunciar nossos erros e trazer de volta o Reino, o acesso ao paraíso novamente. A paz com Deus, com os irmãos e com a criação. Mas isto lhe custou o dom de sua própria vida. Selou e assinou com seu sangue uma nova aliança. “Este é o cálice do meu sangue; o sangue da nova aliança que será derramado por vós”.

Esta foi uma vida bem sucedida. Por isso Deus o exaltou e o ressuscitou dos mortos; e lhe deu um nome diante do qual todo joelho se dobre, no céu e na terra (Cf. Fl 2,9). O mistério da Ressurreição de Jesus é algo fascinante. Por sua entrega amorosa à morte e “morte de cruz” é conduzido ao estado de vida definitivo, pra sempre, transfigurado e vitorioso.

Isto me faz lembrar uma crônica que vale a pena mencioná-la. Fazia referência a um cemitério de Londres no qual não há túmulos cobertos de lajes e pedras, mas sim, com vegetação e lírios brancos. Um visitante foi surpreendido por uma leve chuva e se abrigou sob a marquise de uma capela. Enquanto esperava a chuva passar, contemplava a bonita paisagem e dizia interiormente: “que magnífico! Parece que os mortos florescem. Como pode: de restos mortais e ossos em decomposição surgir pureza e perfume!”.

O que na mente deste visitante é mais um devaneio poético, para a Fé cristã é a pura realidade. Da humanidade caída e afetada pela corrupção da morte Cristo faz surgir o homem livre e novo. “Pois, se pelo pecado de um só toda a multidão da humanidade foi ferida de morte, muito mais copiosamente se derramou sobre a mesma multidão, a graça de Deus” (Rom 5,15).

O que me empolga também nas conseqüências desse derramamento de vida ressuscitada e ressuscitante é que a maravilha não se restringe apenas ao nosso corpo, mas transfigura nossa vida na carne. Como Deus poderia descartar tanto esforço e conquistas do ser humano que estão ligados à nossa corporeidade e realizados cumprindo a ordem dele quando ordenou: crescei, multiplicai-vos e dominai a terra?

Somos mergulhados neste mistério da Páscoa de Jesus, na sua passagem da morte para a vida. Saímos do velho mundo do pecado para entrarmos novamente no mundo da graça. Em Cristo os mortos florescem. É a segunda chance.

Monsenhor Antonio de Pádua Almeida
Retirado do Site da Arquidiocese de Maringá

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