"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

domingo, 3 de abril de 2011

4º Domingo da Quaresma - Domingo da alegria e do cego de nascença

Certamente, a tensão em que as comunidades do quarto evangelho viviam junto às autoridades religiosas judaicas pode ter influenciado a construção desta narrativa, com seus diversos confrontos entre os que acolhem e os que se negam a reconhecer Jesus como o filho de Deus. No entanto, o texto possui um forte simbolismo batismal, o que explica sua escolha, desde antiga tradição, para o tempo quaresmal. O nome da piscina em que o cego se lava - “Siloé”, palavra que quer dizer “enviado” - aponta para um dos sentidos mais profundos desta passagem. Quem mergulha no “enviado”, recupera a visão. E aqui se misturam o simbolismo da água com o simbolismo da luz e da “unção”, que em grego significa “crisma”, donde deriva “Cristo”. O texto culmina com a profissão de fé - característica dos relatos evangélicos do ano A - e com um epílogo surpreendente: os papéis são trocados e os juízes são julgados.

Na Igreja primitiva, o batismo era conhecido como iluminação. De fato, a cura do cego tornou-se uma parábola da iluminação batismal. O(a) batizado(a) é um(a) iluminado(a) que tem os olhos abertos por Cristo no banho em seu nome. A iluminação é progressiva: primeiro, o cego chama Jesus de homem; depois, de profeta; finalmente, de Senhor. O batismo não é um título, mas um caminho. Na experiência do cego, essa evolução coincide com o processo de iniciação no caminho de Jesus. O texto descreve as dificuldades que a pessoa deve enfrentar até proferir a fé de modo pessoal e profundo e mostra que a libertação não acontece sem a nossa efetiva participação, deixando as obras das trevas e assumindo gradativamente as obras da luz. O caminho progressivo do cego de nascença se atualiza nos passos de quem procurar traduzir em ações concretas esta passagem: “Sabemos que passamos da morte para a vida quando amamos os irmãos”, diz o apóstolo João.

Esta passagem - páscoa e transformação - tem lugar no próprio ato de nossa celebração. Na celebração deste domingo, é toda a assembléia que se coloca no caminho da passagem das trevas para a luz, fazendo-se catecúmena, deixando-se iluminar pelo Cristo e por seu Espírito, retomando o propósito da conversão e do amor concreto como exigência batismal. Não é à toa que o texto do evangelho se estrutura através de alguns ritos litúrgicos, como a unção, o banho e a prostração: foi através da unção e do banho que o cego recuperou a vista e, pela prostração, reconheceu Jesus como Senhor. Enquanto o banho evoca o batismo, a unção aponta para a ação total do Espírito em nós, que nos recria, transforma e consagra. O gesto litúrgico da prostração significa o reconhecimento total e a adesão incondicional ao Cristo.

Na 1ª leitura, Davi é ungido rei, embora não fosse o filho primogênito. Deus toma a iniciativa de conduzir a história, escolhendo pessoas para serem seus instrumentos, sem levar em conta os méritos. A 2ª leitura salienta a necessidade de viver como filhos da luz, produzindo frutos de bondade, justiça e verdade.

Retirado da Revista de Liturgia

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