Na véspera de sua Paixão, Ele tomou o pão e o vinho em suas mãos e nos deu esse memorial vivo da sua oferta ao Pai, para que sempre o fizéssemos em sua memória. Não uma lembrança morta de um fato passado, mas presente perenemente: “Toda a vez que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha” (cf. 1Cor. 11,26).
Na oração sacrifical da missa, a comunidade, presidida pelo sacerdote celebrante, invoca o Santo Espírito para que nossas ofertas, a oferta da Igreja, de pão e vinho, se transforme no Corpo e Sangue do Senhor.
Ao se celebrar a santa missa, tenhamos presente este mistério de salvação. A estrutura da liturgia muito nos ajuda, quando bem celebrada pela comunidade.
Explicitamente, leva a reconhecer-nos pecadores e implorar a misericórdia de Deus pelo seu Cristo que por nós clamou e foi ouvido, porque, embora Filho de Deus, humilhou-se e se fez obediente, tornando-se causa de nossa salvação.
Logo ao iniciar a liturgia nos apresenta um momento especial de reconhecimento de nossas fraquezas. Convém um tempo de silêncio que se conclua pedindo o perdão, seguido nos dias festivos da ação de graças no Glória. Este é um hino cristocêntrico, isto é, dirige-se especialmente ao mistério redentor, ao Filho Unigênito que tira o pecado do mundo e a quem, ainda uma vez pedimos tenha de nós compaixão e que atenda a nossa súplica.
Seria um bom costume que, de vez em quando, em lugar dos cânticos de louvor que entoamos, e que fogem do contexto deste hino, o rezássemos meditando nas suas palavras, integrando-o no espírito gratidão pela penitência e perdão, que, por Cristo, nos são concedidos como o texto litúrgico o expressa.
No Ofertório, com o coração contrito pedimos que o Pai aceite o sacrifício que vamos oferecer para a sua glória e que sirva à nossa salvação.
Na Oração sacrifical, reconhecemos-nos pecadores, Igreja santa e pecadora, que nas vicissitudes da terra oferece este sacrifício que suplica seja aceito enquanto aguarda a ressurreição.
Antes de receber o pão eucarístico, há dois momentos expressivos de reconciliação e que, infelizmente, não valorizamos nas nossas celebrações.
Tendo rezado o Pai nosso, olhando para a assembléia, lembramo-nos do mandamento de Cristo, amai-vos como eu vos amei, isto é, até me oferecer por vós na cruz. E o evangelista São Mateus nos transmite a palavra do Senhor que, antes de fazermos a oferta ao altar, primeiro temos de nos reconciliar com o irmão(cf. Mt. 5, 23-24).
O convite que o celebrante faz à saudação recíproca não é para um cumprimento social. É de transmitir a paz de Cristo e esta só se dá pela reconciliação, pelo perdão nascido do amor.
E ainda mais uma vez, pedimos piedade ao Cordeiro que tira o pecado do mundo e que por sua morte e ressurreição é a nossa paz.
Finalmente, quase que um ato individual: “Senhor, eu não sou digno, mas dizei uma palavra e serei salvo.” E, confessando que recebemos o Corpo de Cristo, recebemos também a sua salvação.
Na santa missa, aproximemo-nos do trono da graça para alcançar misericórdia e sermos socorridos. Valorizemos as nossas celebrações para que sejam a mais alta expressão da nossa fé, pela qual tributamos a gloria e a gratidão a Deus enquanto percorremos o caminho que nos leva até Ele na eternidade.
DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.
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