"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pôr limites é preciso...

Caríssimos,

O tema central de nossa última reunião (última mais recente ;-)) foi educação dos filhos. Para movimentar um pouco mais as discussões, segue mais um interessante artigo sobre o tema. O artigo foi publicado no Diário do Nordeste (13/05/2007), e fala sobre limites.

Vale a pena a leitura...

Enjoy!

Pôr limites é preciso

Vivemos uma era que cultua o prazer e evita a dor. Todas as dores e todo tempo. Recentemente, lemos em conhecido meio de divulgação de notícias que a ciência havia chegado a identificar pessoas dentro de um perfil de normalidade como sendo aquelas com capacidade de vivenciar ansiedade, irritabilidade, insegurança, desconfiança, etc, conservando ao mesmo tempo a capacidade de pensar e cumprir compromissos. Entretanto, mesmo para essas pessoas recomendava-se o uso de medicamentos, se o médico fosse consultado com a queixa de tristeza, dor ou desconforto emocional. Quando se levantou a possibilidade de que enfrentar dificuldades emocionais fosse fundamental para o crescimento pessoal, a resposta foi "quem pode atestar que o sofrimento faz bem?".

Mas o que isso tem a ver com o tema dos limites aos nossos filhos? Tem tudo a ver, pois nada existe de mais sofrível do que a frustração, ou seja, dizer "não" aos desejos e impulsos quando for este o caso. Embora doloroso, o "não" é fundamental para o crescimento, para a construção do sentido de realidade ou de que as coisas são como são independentes da nossa vontade, do que possamos querer ou não. Temos limites em relação a tempo, a dinheiro, temos limites morais e éticos, desde que a nossa liberdade termina onde a do outro começa. O ser humano não nasce sabendo disso. Ele vem ao mundo sem referência alguma, dispondo apenas de um senso de orientação do que lhe faz bem, isto é, atende aos seus desejos e do que lhe faz mal ou não lhe atende. Como somos na origem uma grande boca que almeja todo amor, todo poder, ser tudo e ter tudo com um mínimo de esforço ou esforço nenhum, dá para perceber que temos pela frente a dolorosa tarefa de desiludirmo-nos. É aí que entra o "não" dado pelos pais, que são as pessoas, que conhecem os limites e podem transmiti-los aos filhos. Sendo as pessoas que também os atende e os ama tornam mais fácil para as crianças aceitarem as restrições necessárias. O "não" dito pelos pais é tão necessário quanto o "sim", pois nos coloca em contato com a realidade, aproximadamente, o que somos e o que o mundo, as pessoas são. Essa referência dada pelos pais possibilita que nos organizemos internamente ao favorecer que conheçamos nossas limitações e capacidades, o que funciona como uma base de onde podemos partir para desenvolvermo-nos.

É certo que no primeiro ano de vida toda criança tem que ser mimada e que as frustrações devem ser dosadas de acordo com cada idade e em conformidade com o temperamento da criança. Os pais têm alguma noção disso, pois tendo sido eles crianças podem acessar suas experiências pessoais para compreender os filhos.

Suportar a dor dos limites pessoais e daqueles que a realidade nos impõe é fundamental para podermos desfrutar da alegria de viver. A cultura que induz ao prazer de forma irrestrita é coerente com a dificuldade de obedecer e dar limites que vemos hoje. Que seja também o tempo onde a violência impera é um dado que talvez possamos considerar!

ROSANE MÜLLER COSTA
Psicóloga, psicanalista e psicoterapeuta, professora do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza e da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Fortaleza.

Fonte: Diário do Nordeste. Caderno: Eva (13/05/2007)

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