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Artigo originalmente publicado no portal da Canção Nova
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Pôr limites é preciso
Vivemos uma era que cultua o prazer e evita a dor. Todas as dores e todo tempo. Recentemente, lemos em conhecido meio de divulgação de notícias que a ciência havia chegado a identificar pessoas dentro de um perfil de normalidade como sendo aquelas com capacidade de vivenciar ansiedade, irritabilidade, insegurança, desconfiança, etc, conservando ao mesmo tempo a capacidade de pensar e cumprir compromissos. Entretanto, mesmo para essas pessoas recomendava-se o uso de medicamentos, se o médico fosse consultado com a queixa de tristeza, dor ou desconforto emocional. Quando se levantou a possibilidade de que enfrentar dificuldades emocionais fosse fundamental para o crescimento pessoal, a resposta foi "quem pode atestar que o sofrimento faz bem?".
Mas o que isso tem a ver com o tema dos limites aos nossos filhos? Tem tudo a ver, pois nada existe de mais sofrível do que a frustração, ou seja, dizer "não" aos desejos e impulsos quando for este o caso. Embora doloroso, o "não" é fundamental para o crescimento, para a construção do sentido de realidade ou de que as coisas são como são independentes da nossa vontade, do que possamos querer ou não. Temos limites em relação a tempo, a dinheiro, temos limites morais e éticos, desde que a nossa liberdade termina onde a do outro começa. O ser humano não nasce sabendo disso. Ele vem ao mundo sem referência alguma, dispondo apenas de um senso de orientação do que lhe faz bem, isto é, atende aos seus desejos e do que lhe faz mal ou não lhe atende. Como somos na origem uma grande boca que almeja todo amor, todo poder, ser tudo e ter tudo com um mínimo de esforço ou esforço nenhum, dá para perceber que temos pela frente a dolorosa tarefa de desiludirmo-nos. É aí que entra o "não" dado pelos pais, que são as pessoas, que conhecem os limites e podem transmiti-los aos filhos. Sendo as pessoas que também os atende e os ama tornam mais fácil para as crianças aceitarem as restrições necessárias. O "não" dito pelos pais é tão necessário quanto o "sim", pois nos coloca em contato com a realidade, aproximadamente, o que somos e o que o mundo, as pessoas são. Essa referência dada pelos pais possibilita que nos organizemos internamente ao favorecer que conheçamos nossas limitações e capacidades, o que funciona como uma base de onde podemos partir para desenvolvermo-nos.
É certo que no primeiro ano de vida toda criança tem que ser mimada e que as frustrações devem ser dosadas de acordo com cada idade e em conformidade com o temperamento da criança. Os pais têm alguma noção disso, pois tendo sido eles crianças podem acessar suas experiências pessoais para compreender os filhos.
Suportar a dor dos limites pessoais e daqueles que a realidade nos impõe é fundamental para podermos desfrutar da alegria de viver. A cultura que induz ao prazer de forma irrestrita é coerente com a dificuldade de obedecer e dar limites que vemos hoje. Que seja também o tempo onde a violência impera é um dado que talvez possamos considerar!
Deus concedeu aos pais o privilégio de iniciar uma geração com o nome da família. Uma geração, personalizada, que terá sua fama conhecida nas ruas, bairros, cidades, quem sabe, no mundo…Em contrapartida, responsabilidades não faltarão para aqueles que responderam ao chamado da paternidade.
Antes de nos tornarmos pais, vivemos a experiência de ser filhos. Experimentamos o conforto de esperar dos pais a providência para todas as coisas. Dentro da limitação e dos “apuros” financeiros que eles viveram, nem sequer tomávamos conhecimento.
Na nossa historia de filhos, certamente, tivemos outras experiências, que nos fizeram sofrer, talvez pela dificuldade de nossos pais ao acesso à informação, capacitação, ou, até mesmo do medo deles se abrirem para a busca de ajuda com pessoas mais experientes. Com isso, talvez, muitos filhos provaram dos amargos momentos de rispidez que não desejamos levar adiante, agora, como pais.
Embora tenhamos conhecimento dos erros cometidos, involuntariamente, por eles, começa em nós a busca de ser diferente, a fim de favorecer e resguardar a harmonia, a paz dentro do nosso “reino” e evitar atitudes que poderiam facilmente nos distanciar do sadio entrosamento. Com a chegada de alguém que, sem medo de incomodar, nos acordará por inúmeras vezes durante a noite e em outros momentos, mesmo ainda embalado no sono, não hesitará de fazer xixi em nossa roupa limpa; uma profunda transformação acontecerá, não somente no temperamento de pais, mas uma nova atmosfera tomará conta, também, da casa.
Fazendo memória da realidade de filho que se tornou pai, sabemos que enfrentaremos os mesmos problemas e preocupações que viveram nossos genitores no passado. Entretanto, sem nos deter aos erros vividos, estaremos juntos trocando experiências e assumindo novos posicionamentos face às dificuldades que surgirão no desejo de minimizá-los.
Ainda que não saibamos lidar com tamanha responsabilidade, aceitamos o báculo da nossa igreja doméstica para iniciar a mesma jornada que há milhares de anos foi, também, confiada a um profeta, incumbido-lhe a missão de conduzir seu povo à terra prometida.
Confiante que Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos, peçamos a Ele a graça de estarmos atentos aos Seus ensinamentos a fim de alcançarmos o objetivo de educar nossas crianças sob a verdade da Igreja, conforme havíamos prometido no ato da celebração do matrimônio.
Um abraço.
José Eduardo Moura
Artigo publicado originalmente no portal Comportamento
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